Conversas francas fazem bons amigos
O Big Brother chega na gente por todos os lados. Desde sempre. Não é novidade desta edição. Mas não lembro (também não acompanho para poder lembrar…) de uma postura franca tão marcante logo de cara, com a da Yasmin Brunet, diante de um tema tão necessário: machismo.
Campanhas e mais campanhas são feitas contra o machismo, enquanto crimes na vida real mostram a face mais dura dessa cultura: o feminicídio. Yasmin está jogando isso em nossa cara mais uma vez. Mas, ao invés de aprender, os e as machistas apontam o dedo pra ela. Frustrante? Não. Esperado. O Brasil de hoje não permite muito otimismo nesse aspecto.
Há poucos anos, era normal justificarmos que uma mulher que tenha estuprada ou assediada estava “pedindo”. Ao vestir roupas provocantes, curtas, transparentes, elas provocavam o instinto de macho presente em predadores e abusadores. Era tolerável e a culpa era da mulher. Isso me lembra muito as personagens de Nelson Rodrigues, aliás.
Voltando ao BBB, os machos predadores, casados, dizem que não querem ser flagrados olhando (desejando) para Yasmin. Portanto, ela não deve usar determinadas roupas. Aquelas provocantes, que forçam os homens (as vítimas) a olharem como objeto de desejo. Meu deus… ver isso escancaradamente; pior, com mulheres justificando e entendendo, é de doer (eu diria pra f***). Ainda bem que a sedutora, provocadora Yasmin responde em alto e bom som a essas falas.
A Yasmin vai pagar um preço por isso? Vai. Assim como a mãe dela pagou; assim como eu pago por ter denunciado um homem branco + rico + bem sucedido por assédio sexual; assim como pagam milhões de mulheres todos os dias. Muitas com a própria vida. Mas PELO MENOS agora temos voz. O predador agora não fala mais sozinho na televisão. Ainda dá para ter um pouco de otimismo…
Oscar Wilde disse: “em última instância, o combustível de todo companheirismo, seja num casamento ou numa amizade, é a conversa”. No bom português, ele quer dizer que conversas francas fazem bons amigos; ou seja, saber conversar, trocar, falar e ouvir faz bons amigo. E colocam pingos nos is em muitos casos. É o que Yasmin Brunet vem fazendo com franqueza e naturalidade.
Por Flávia Moreira, jornalista