Há um mês assistia, em estado de choque, as imagens do ataque terrorista do Hamas a Israel. Não sai da minha cabeça aqueles jovens correndo, fugindo, sendo arrastados… poeira, sangue, armas… 30 longos e intermináveis dias para quem está longe. Imaginem para quem está ou esteve lá.
Eu posso imaginar. Há uma semana eu recebi, no aeroporto de Porto Alegre, duas mulheres que estavam em Israel quando a guerra começou. Lá fui eu, sorrindo, com meu boné de Israel, ansiosa esperá-las. O boné era para que minha irmã israelense pudesse se sentir minimamente em casa. Enquanto abraçava cada uma delas, longamente, só conseguia dizer: sinto muito. Eu estava imensamente feliz por ter as duas aqui, no meu abraço. Mas nessa situação, a felicidade se envergonha.
Com medo de ferir ou mexer em feridas recentes, eu fui fazendo, lentamente, algumas perguntas. Primeiro, claro, queria saber se estavam se sentindo seguras. Horas e dias de conversas. E há tanto para ouvir e entender, ainda. Mas sobretudo ouvir. Gosto tanto de ouvir e escutar. Prestar atenção. Estar presente. Não consigo fazer muito disso: parar tudo e ouvir. Já fiz bem menos. Estou feliz com essa minha evolução (e agradecida à terapeuta e aos meus pais que sempre me ofereceram terapia).
Conforme eu vou ouvindo as duas, consigo desenhar o que elas me dizem. Junto com as imagens da televisão (tenho evitado redes, porque há muita atrocidade sem filtro). Mas algo no olhar delas me mostra que tudo isso é muito mais profundo do que a gente é capaz de supor. Por isso, muito melhor do que eu escrever sobre isso tudo, é um texto delas. Em breve teremos!
A guerra não deve acabar tão cedo. Possivelmente, o mundo a normalize como acontece com a guerra entre Ucrânia e Rússia. Para mim, para minha prima e para minha irmã israelense, jamais será.
Espero estar errada! Quero voltar a Tel Aviv o mais rápido possível para celebrar, mais uma vez, o amor. Há alguns meses, celebramos o casamento delas lá. Quero poder voltar para celebrar o amor, a vida e a chance de fazermos planos. Por enquanto a. gente fica aqui, perto.
Sexta passada, ao cair do sol, acendemos velas e oramos. Eu, que nada entendo de hebraico, senti a força daquelas palavras e daquele pedido. Shabbat Shalom e nos abraçamos.
Por Flávia Moreira, jornalista
Parabéns Flávia. Sempre trazendo a sensibilidade necessária para abordar temas complexos, que envolvem paixões políticas, mas acima de tudo, envolvem vidas humanas.