O futuro é incerto. E nós, será que influenciamos o destino? Acho mais provável que tenhamos o direito (e o dever) de escolher caminhar de mãos dadas com nosso destino da melhor maneira que pudermos durante a vida. Quem está interessado em viver, sabe exatamente quando chega a hora de transformar ou modificar aquele velho e conhecido “jeitinho” de (não) resolver os problemas com mecanismos internos que só nós, com talento único, sabemos manejar e disparar como ninguém contra nós mesmas. Da membrana para dentro, da pele para fora. É emocional, precioso, pessoal, misterioso e intransferível. Só eu, aqui com os meus pensamentos, e você aí com os seus, pode saber exatamente sobre o que tento escrever. Porque o que não pode ser escrito ou expressado, é inefável. De beleza e complexidade extremas. Todos nós nascemos aptos a sermos inefáveis, mas optamos por uma automática obviedade. Não passamos de cúmplices atordoados ou saudáveis dos nossos próprios pensamentos e da energia que escolhemos deixar pulsar em nós e de nós para o mundo. Nos acostumamos a parcelar celulares, roupas, viagens, cursos, hábitos, pessoas, muletas e profissões para usarmos, nos suportarem e para nos darem doses extras de felicidade e prazer, mas não nos habituamos a decidir quais as sensações e energias queremos vibrar durante nossas rotinas repetidas ou quais as linhas de pensamentos e ações costumam nos iluminar mais enquanto gastamos o tempo vivendo.

Todos os dias somos intimados a conduzir nossos corpos e mentes para o melhor. Uma espécie de corda bamba imaginária dentro do labirinto que nossos corpos, mentes e espíritos têm a árdua e deliciosa missão de dividir. Sem rodeios ou conversas compridas e chatas entre o “si” e o “mesmo.” Quem não tem coragem para enxergar de frente a imperfeição no espelho não será abençoada com a maravilha fabulosa que é desfrutar da vida.

Os avisos da nossa própria alma são exclusividade nossa. Batem todo o momento em cada uma das nossas portas íntimas quando não estamos distraídos ou ausentes. São calafrios, náuseas, arrepios gostosos, frios na barriga, corações quentes, ímpetos perigosos. Surgem em olhares irônicos, propostas indecorosas, convites tentadores ou situações constrangedoras. Um incidente. Mais um acidente. Corpos doentes, almas inquietas. Um tom (de voz) acima, um centímetro de cabeça abaixo. Recadinhos mansos ou bilhetes abruptos. Calores internos, frios eternos…

Sentir a vida e as pessoas antes de ser atingida por elas é o que torna nosso cotidiano além de banal, também incrível. Você finalmente deixará que a sua alma páre de te beliscar com tantas perguntas, distrações, devaneios e desânimos durante a viagem para começar a te presentear com um milhão de respostas, propostas, perspectivas novas e sinais mágicos. Tudo vindo sem escala direto do seu lugar predileto: sua verdade pura, inundada da sua presença. Não tema o desconhecido. Não automatize o sentimento. Conjugue com amor o verbo pensar. Sinta-se permanentemente existindo e pulsante, não resistindo e culpado. Entre boletos, tarefas, inspirações melancólicas e exalações entediadas, estamos nós. Somos templos e não campos de batalhas exaustos onde lutam exercitos confusos e sem fim de serotonina e dopamina.

Desapegue da visão toda e das reações comuns e imediatas. Observe determinada e foque na fenda suave das sensações sussurrantes e dos sentires profundos: é bem aí que você reside sem disfarces ou filtros. Não menospreze suas reflexões, seja capaz de imaginá-las e pensar que aromas, cheiros, cores ou aparências elas exalariam se saíssem aí da sua cachola cansada. Basta isso para dar tempo para que tantas “ideias e ideais” atinjam juntos e em cheio seu coração e saiam transformadores e sútis pela sua boca, seus poros, em cada uma das suas atitudes e projetos. Não vacile. Nossa visão é ancestral e coletiva. Atrase-se o quanto menos para buscar a chave secreta da sua intuição. Ela é uma joia tão preciosa que não está à venda em nenhuma joalheria. Não acredite em tudo! Mas também não duvide de nada. Siga regras, seja educada, coerente, ética e humilde, mas não acorrente-se a padrões que nunca foram seus ou a receitas prontas e inúteis contra o tédio, o medo e a dor.

Não deixe que seu ego seja capaz de sentir mais do que você própria. Observe mais, julgue menos. Compreenda mais, explique menos. Perceba mais, interrompa menos. Seja dona de mistérios límpidos, sedutores e honestos. Que a força sábia da sensibilidade sirva para nos guiar e não para atropelar desordenada a coragem das criações. Que reencontremos a capacidade de sentir mais as cores, as flores, os cheiros, os sons, os lugares, as peles e as texturas. Que não sintamos vergonha de chorar as dores ou celebrar amores. A sutileza é quando o corpo e o pensamento encontram a beleza e o efeito do S I L Ê N C I O.

Com amor e sutileza,

Mariana Bertolucci

Foto: Alle Manzano

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  1. Débora Bertol says:

    “Sutilezas e obviedades” se pensarmos nos antônimos da palavra obviedades nos deparamos com: variável, mutável, inesperabilidade e a imprevisibilidade. E é por aí que a tua crônica vai nos conduzindo a “ser” interrogante, colocado em questão, sobretudo dividido. O contrário de sutileza é: deselegância, vulgaridade e indelicadezas que também são formas de estar em relação com o outro. Será estão que influenciamos ou somos atravessados pelas vicissitudes da vida? A aposta no amor, nas delicadezas e na leveza é um belo caminho que nos aponta. Obrigada pelo crônica.

  2. Gabrielle Mastella de Oliveira says:

    Simplesmente para Ler e imprimir, deixar o mais visível possível aos nossos sentidos. Uma leitura e tradução perfeitas dos tesouros do silêncio. A Mari transborda a alma quando escreve e traduz silenciosas reflexões comuns a muitas almas, porém nem todas providas do gigantesco e amoroso talento dela com as palavras. ObrigadA minha Mari por sempre nos brindar essas reflexões em formato de crônica. Vc é um pouco de tudo e o muito do todo.

  3. VANJA ELIETE ALMEIDA FREITAS says:

    “Observe mais, julgue menos”. Que beleza de conselho, Mari. Esse último parágrafo de seu texto é pra ser copiado e lido todos os dias.
    Que beleza! Muito obrigada!

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