Dos onze autores dessa obra, cinco são meus parceiros de redação por divertidos anos na Zero Hora; Alexandre Bach, Carlos Wagner, Elton Werb, Ricardo “Kadão” Chaves e Márcio Pinheiro. O Flávio Dutra, entusiasta líder da coletânea de crônicas que será lançada em agosto, foi o meu primeiro e mais recente chefe, na TVE no século passado e agora em 2021, na Prefeitura de Porto Alegre. Horst Eduardo Knak, Marcelo Villas Bôas, Marco Poli, Mario de Santi e Reni Luiz Marques tive a honra de conhecer melhor depois de aceitar o desafio de assinar o prefácio do livro Entre um Gole e Outro – Conversas de Boteco, Confraria do Alemão, que terá sessão de autógrafos no próximo dia 17 de agosto, no Bar do Alexandre, a partir das 18h. A obra é a primeira coletânea de crônicas publicada pelo selo da Bá Editora e quem assina o projeto gráfico é o designer e editor Antônio Luzzatto. Em comum, os jornalistas têm o amor pelas palavras e a camaradagem de encontros semanais sempre às quintas, que acontecem há cerca de cinco anos no boteco de esquina do Menino Deus onde será lançado o livro.
Dividimos mesas barulhentas de reunião de pauta e noitadas pós-fechamento no Bar do Beto, mas não sabia que o Alexandre Bach dava beijo na bochecha do garçom e que existe até um filé com palmito em sua homenagem no cardápio. Ah, em abril de 2024 já sei onde serão os festejos do aniversário dele.
Mesmo há 8 anos longe da redação, Carlos Wagner ainda é um dos 10 jornalistas mais premiados do Brasil e segue escrevendo como é: visceral, apaixonado, destemido, ágil e de radar sempre alerta para as injustiças e futuro da reportagem. Como ele diz: “jornalista não foi feito para viver solitário”. Foi sabendo disso que uma quinta-feira saudosa da velha e boa redação, Wagner convidou o Alemão Elton para umas geladas no Bar do Alexandre. Sem que eles soubessem nascia naquele encontro a Confraria do Alemão. O Alemão (não o homenageado pela Confraria que é o cão que reinava absoluto no bar até falecer) foi um colega tranquilo, companheiro de plantões. Sabia do incentivo que dava para a filha Bruna no ballet, já que continuamos nos encontrando com frequência nos ensaios e saídas das aulas, mas não recordava da obsessão que tinha por emplacar furos, tampouco que hoje ele atua no mercado de ações. Como ela explica em um de seus textos. O estilo objetivo e ácido entrega o editor afiadíssimo que fora. Ah, e que odeia escrever. Imagina se gostasse.
Fluidas, abundantes, atentas e bem-humoradas, Flavio Dutra, além de falar muito bem sobre inteligência artificial, explica em suas crônicas porque é um aficionado por confrarias e um contador de histórias voraz. Concordo com ele de que fazemos parte de uma tribo que inventa desculpas (confrarias) para se encontrar. Horst Eduardo Knac se define um repórter do tipo murrinha de tão detalhista. Característica típica dos melhores. Dedicou boa parte da carreira ao segmento agropecuário e narra histórias com diversão lembrando dos tempos em que amassava uva numa produção coletiva de vinho caseiro ou das guerrinhas de bosta seca. Sim, além de falar de pautas cabeludas e saideiras, os confrades também visitam memórias singelas e bonitas do passado em seus relatos.
Repórter talentoso e incansável, curioso e bem informado, dono de texto preciso, bom de papo e dono de um extenso conhecimento geral e cultural, além de mascote do grupo, Marcio é o RP da Confraria, é o dono da maior lábia da turma. Há meses ele me cutuca: “tu tens que aparecer no Bar do Alexandre, tu vais adorar…”. Foi assim que abduziu Marcelo e mais dois integrantes (Flávio e Mario) para esse Dream Team da imprensa gaudéria. Marcelo passeia por detalhes curiosos da política e confessa que sentia saudades da convivência com jornalistas, mas não sabia. Marco é falante e animado. Em uma das suas crônicas tirou palavras da minha boca quando conta que os reencontros entre jornalistas são sempre parecidos, independente do tempo que levam para acontecer: “… jornalistas apenas continuam a conversa.” No boteco então…
Depois de dirigir redações e sucursais de jornais paulistas no Sul do país, Mario, que ainda fez uma exitosa trajetória como empreendedor e restauranteur,e nos delicia com elegantes textos sobre tours gastronômicos e o encanto do primeiro olhar que trocou com a mulher, Dilza, em reuniões subversivas durante a ditadura na Porto Alegre do fim dos anos 60.
Não tive a sorte de dividir a redação com o Reni, mas senti uma nostalgia comovente e cúmplice lendo sobre a sua saudade da velha Remington. Não é porque o Kadão toma coca zero que ele não fecha a mesa das quintas. Poeta de imagens, também emociona com as palavras e o nosso resistente das rotativas, com o seu Almanaque Gaúcho de cada dia.
Com direito a gargalhadas e lágrimas, a leitura é obrigatória para apreciadores da boa escrita e jornalistas de todas as idades. A cada texto das 248 páginas, os 11 autores nos conduzem pela mão com humor, coragem e ternura a um tempo perdido e ainda presente nas memórias mais bonitas de quem sobrevive da escrita e de contar histórias. Senti saudade de quem já foi e vontade de encontrar tanta gente nossa, seguindo o exemplo da Confraria do Alemão. Lê-los foi um deleite e poucas vezes em meio século, me senti tão honrada por participar desse projeto. Por mais que tanta gente repita o contrário, e que somos um bando em extinção, ainda dá um orgulho danado de ser uma jornalista raiz que faz parte dessa turma. Quem merece todas as orquídeas e os carinhos de agosto são vocês. Obrigada!
Foto do André Feltes, outro parceiro querido nosso.
Mariana Bertolucci
Meu DEUS! Estou em falta comigo mesma pois não tenho ainda,essa preciosidade!
Maravilhoso. Não há o que acrescentar. Sentimentos contados narrações lindas. Saudosas. Enfim
Narrativas de Quem sabe escrever e recontar . Viva o encontro das quintas e que continuem sucessivos Abraços e muitos encontros com esses textos bárbaros de tão lindos e exuberantes da Mariana Bertolucci 🙌👏👏👏