Tenho uma amiga que se descreve como “pitena” — uma palavra que ela mesma inventou, no auge dos seus dois anos de vida. Um dia, enquanto caminhávamos juntas em uma praça, perguntei como se chama a melhor amiga dela. Ela respondeu, “você”!

Aos 58 anos, com 35 deles dedicados ao trabalho com crianças, raramente um dia passa sem que eu aprenda algo novo ou me surpreenda com a sabedoria dos pequenos. Mas essa amizade especial com minha pequena amiga me faz refletir sobre algo mais profundo e eu tenho a suspeita de que Monteiro Lobato desempenha um papel importante nessa história.

Vou explicar: Quando eu era criança, assistia religiosamente ao “Sítio do Picapau Amarelo”, aquela novela infantil com 194 capítulos que invadiam meu imaginário e me enchiam de alegria, especialmente as cenas com a Emília. Se tivesse que escolher, o capítulo que mais me marcou foi o dia em que a boneca virou gente.

Quando minha filha era pequena, pedi à minha mãe que costurasse uma roupa e uma peruca da Emília para ela. Ou seria para mim? Isso, claro, é outra história. Meses atrás, contei para minha “amiga pitena” sobre a Emília e seus olhinhos brilharam de curiosidade. “Quem é a Emília?” ela me perguntou. “É uma boneca que virou gente”, respondi. Ela, encantada, me disse que queria conhecê-la.

Então, comecei a pensar na melhor forma de apresentar a Emília para uma criança dessa nova geração. Colocar o episódio diretamente no YouTube parecia prático, mas eu temia que o encanto se perdesse. Ao mesmo tempo, não queria abrir mão de compartilhar esse rico tesouro da nossa literatura. Não desistiria.

Num domingo, passeando pelo Brique da Redenção, no Parque Farroupilha em Porto Alegre, encontrei dedoches dos personagens do “Sítio”. Não resisti e comprei a Emília e a Cuca. De lá mesmo, pedi à minha filha Roberta que filmasse minhas mãos e improvisei uma pequena apresentação, que enviei por WhatsApp para a mãe da minha amiga.

Assim começou o fascínio dela pela Emília e pela Cuca, com seus feitiços misteriosos. Logo, passamos dos dedoches para o Spotify, onde buscamos a trilha sonora do “Sítio”. Dançamos juntas e rimos ao som da música da Emília, cantada pela Baby do Brasil.

Outro dia, assistimos no Youtube ao episódio em que tia Nastácia costura a boneca de pano da Narizinho, que estava rasgada. No segundo ponto da costura, ouve-se um “Aiaiai” e é nesse momento que sugiro a todos: assistam a essa obra-prima com alguma criança por perto.

Dia desses, minha “pitena” amiga me disse que escolheu fazer o seu aniversário de três anos de Emília. Imaginem a minha alegria! Talvez esse seja o presente mais valioso que podemos oferecer às crianças: nossa presença, recheada de memórias e imaginação.

Essa é minha homenagem às crianças, no dia delas.

Educadora, Proprietária da Escola de Educação Infantil Caracol de Porto Alegre, Curadora de arte para a infância, Pesquisadora e idealizadora do Podcast PodeMãe @karstenvalesca

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