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Sobre como vão as coisas

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Segunda-feira, 18h42, Av. Goethe, Porto Alegre. Trânsito engarrafado e aquele ar mal-humorado que as grandes metrópoles ostentam como um troféu. Devagar, quase parando, uma van escolar desfila em frente ao ponto de ônibus, seguindo o lento fluxo de arrancada de um semáforo recém-aberto. Com o braço esquerdo para fora da janela, uma menina — deveria ter uns 9 anos — acena e, com um sorriso de quem está fazendo arte, pergunta, olhando nos meus olhos: “tudo bem, moço?”. Antes que eu pudesse responder ou mesmo retribuir com outro sorriso — um talvez não tão genuíno —, lá se ia a menininha.

Com minha interlocutora se distanciando, lembrei-me de que fazia o mesmo em todas as excursões da escola — sempre aproveitando toda e qualquer brecha para fazer uma graça. Aquele “tudo bem, moço?” foi minha companhia enquanto o ônibus não chegava. Em um afã desesperado por estar bem e gritar para o mundo ouvir, lançava-me a um assertivo “sim!” como resposta, não fosse a senhora Realidade buzinar em meus ouvidos — sim, meu relacionamento com a dona Rê já esteve melhor…

Tomei conhecimento segunda-feira, 29/05, da moção feita pelo Conselho Universitário da UFRGS, chancelada por seu reitor, Rui Vicente Oppermann, repudiando a intenção Federal de realizar cortes nos investimentos do Ensino Superior público nas áreas das humanidades, especificamente filosofia e sociologia. As declarações feitas, em 25/04, por Abraham Weintraub, Ministro da Educação, custaram a me atingir com valor de verdade. Maldito “tudo bem, moço?”!

Talvez nunca tenhamos precisado tanto de uma profunda intervenção filosófica e sociológica em nossa sociedade. Em tempos de plena, instaurada e sólida globalização, temos acesso ao universo na palma das nossas mãos, mas nos apresentamos cada vez mais reclusos em nossos castelos digitais de verdades absolutas. Nesse viés, não é de se admirar que seja proposta a “descentralização de investimento” (eufemismo político para os termos “extinção” ou “abandono”) no ensino da área do saber responsável pelos estudos do indivíduo em relação ao coletivo, não é mesmo?! Faz muito sentido, já que andamos tão dispostos a nos eliminarmos mutuamente — a atirarmos uns nos outros com armas de fogo.

Mikhail Bakhtin, filósofo russo, vejam só vocês que absurdo, é pai de um conceito que me é muito valioso. Segundo ele, autor de extrema expressividade, servindo suas ideias de empréstimo para diversas áreas do saber, a constituição do sujeito individual se dá através da relação contrastiva com o outro. Dessa forma, fazemos uma leitura daquilo que o nosso interlocutor é, emergindo desse dialogismo o nosso “eu”. Em suma, trata-se de um estudo linguístico, filosófico e sociológico sobre nossa relação uns com os outros. Complexo!? Necessário em uma realidade contrária ao diálogo racional!? Percebe a importância do incentivo ao exercício do pensamento filosófico e sociológico? Quero crer que sim!   

Não há desenvolvimento social sem bases filosóficas fundamentais! O olhar para a inconstância humana, sua força motriz em busca de poder, aceitação, reconhecimento e segurança são aspectos ímpares de reflexão e análise para que, um dia, alcancemos uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária. Atravessamos uma crise moral e ética, conceitos, vejam vocês novamente, basilares da filosofia, que estão erroneamente sendo confundidos e pautados sobre crenças e valores individuais. A saída dessa cilada, Bino? Um cuidadoso olhar filosófico e sociológico sobre a vida, disposto a desconstruir e construir!

Sobre como vão as coisas? Reservo-me a deixar a van passar.

Por Filipi Correa

  1. Faltou o mais importante. Se a atual pedagogia aplicada, atualmente, nas faculdades federais de sociologia e filosofia está criando um pensar filosófico e sociológico de real interesse à sociedade brasileira. Qual é a mitologia dos alunos? dos Lentes? Escreveu J.Campbell: “Uma sociedade sem mitologia já morreu não passa de um amontoado de pessoas.” Sr. Lente, signatário do texto, bajulado por quem? ex-alunos? Parentes? Sabemos que o Face circulam muitas Fake, mas seriam reais os vídeos que circulam sobre o que está acontecendo nas aulas de humanas nas Federais? O Lente, signatário pesquisou sobre a verdade ou mentira dos vídeos e depois escreveu o “brilhante” texto? Concordo que o pensar filosófico é importante. Já escreveu alguém: “Não se ensina filosofia, o que se ensina é pensar filosoficamente.” Importa saber que essas disciplinas não serão banidas das Faculdades, só serão remanejados os reais interesses das mesma e a atual pedagogia, se são reais os vídeos que circulam na internet, acredito que o Lente, signatário do texto elogiado, irá concordar que essas aulas de humanas estão sendo direcionadas ao homem da caverna. Por favor pesquise. Pronto escrevi!

  2. Paulo says:

    Perfeito. Um país justo sem faz com homens e letras, alguém já teria dito. O que esperar destes homens que não conhecem o valor das letras?

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