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Fotos por Tonico Alvares

A missão mais difícil que recebi na vida foi a de ser uma boa mãe — quando escrevo boa, estou querendo dizer apenas boa mesmo — um grau abaixo de perfeita ou ótima. Para mim, tem sido muito desafiador e delicado ser somente uma boa mãe. E duvido que a causa seja a falta de tempo para me dedicar à minha filha de 13 anos. Não sou a única mulher no mundo com mais tarefas do que tempo para executá-las. Conseguiria dividir melhor a atenção com ela, tranquilamente, com as demandas da minha profissão e da minha vida pessoal se eu tivesse mais habilidade. Me consola não estar sozinha. A melhor educação que podemos dar a alguém, sendo nosso filho ou não, é o nosso exemplo.

Uma coisa é sermos pessoas bacanas e com valores legais, educação razoável e algum bom senso que reforçam suas crenças diariamente em aulas de yoga, sessões de terapia, reiki ou visitas ao centro espírita, outra coisa bem distinta é agir com decência e responsabilidade em todos os instantes das nossas vidas diante dos olhos atentos e sensíveis dos nossos filhos. Colocando em prática de verdade todo esse “bem viver” que assistimos full time nas redes sociais — esse binóculo digital e dúbio pelo qual nos acostumamos a ver e a dividir a nossa vida e energia com a do mundo inteiro.

Então, muitas de nós convivem com a certeza e a angústia de que não estamos conseguindo ser boas mães, porque temos gastado mais tempo com o celular na mão do que conversando com nossos filhos. Tem um aplicativo que mostra as horas que usamos o celular no dia, e, acreditem, é desesperador enxergar na tela do celular a própria burrice em forma de tempo exato que perdemos bisbilhotando a vida alheia. Ah, sim, claro, obviamente também trabalhando bastante, fazendo contatos e lendo conteúdos relevantes. Ok, cada um sabe de si… E é justamente esse nosso maior tesouro na hora de educar os nossos filhos.

Saber tanto sobre nós mesmos e conseguir reconhecer nas nossas crianças e adolescentes cada uma das nossas fraquezas, equívocos, conquistas e virtudes. Acho um ótimo sinal que eu me dê conta disso e até o fato de não ter sentido vergonha de dividir isso com vocês em plena semana do Dia das Mães. Mas, de nada adianta se dar conta, ter certeza, compartilhar, conversar com outros pais, justificar que o seu filho também está sempre grudado no celular e não vê muita graça em conversar com você, e não fazer ABSOLUTAMENTE nada para mudar.

Também tenho refletido sobre a mãe que tenho conseguido ser, porque, de vez em quando, dou uns berros no trânsito, me atraso para os compromissos, me irrito com alguém ou alguma situação e reclamo alto pela casa, como se o universo fosse o culpado dos meus problemas. Também perco a paciência de ter que repetir muitas vezes a mesma coisa e lamento, perplexa, que a minha filha repita frases que muito eu já disse em voz alta falando sozinha pela casa, pelo carro, pela vida. Eu não estava sozinha. Jamais estive nesses 13 anos.  

Mesmo que eu entenda que ainda tenho uma batalha árdua, pacienciosa e repetitiva pela frente, desejo seguir insistente na costura da minha colcha de retalhos mais importante e única. Como me disse um dia a minha mãe, enquanto nós duas, deitadas na cama dela, olhávamos sem nenhuma pressa ou celular por perto, para a Antônia bebê: “um filho é uma colcha de retalhos cada pedacinho é de um canto”. É a pura verdade, dona Dedé. Obrigada, mãe, por insistir sempre nessa costura sem fim. Seguirei o teu exemplo e não desistirei de usar a linha do amor, o arremate do respeito e a bainha da paciência. E nossa colcha só aumenta. Bem-vinda, Eva, minha sobrinha — nova colchinha do pedaço e maior presente que poderíamos ganhar nesse final de semana.

Feliz Dia das Mães! Mais ternura e menos likes para todas nós!

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Por Mariana Bertolucci

  1. ALINE BOCORNY PETRY says:

    Concordo plenamente com você Mari. Também tento ser somente uma boa mãe para os meus tres filhos, e não uma super heroína. Uma mulher normal, com suas felicidades e dissabores. E olha que moro numa pequena cidade do interior do Paraná, e limitei bastante minhas atividades profissionais para ficar com eles. Na verdade, não é fácil ser mãe, mas é muito gratificante observar nossas colchas de retalho evoluindo, observando os nossos bons e nao tao bons exemplos. E as crianças nos fazem lembrar de nossa própria infância…que saudade do Maria Imaculada e de nossas brincadeiras, apresentações musicais, teatrais. Querida, um super abraço.

    1. Revista Bá says:

      Aline, minha amada, que coisa maravilhosa saber de ti. Quero mais ! Me chama inbox nas redes sociais por favor para trocarmos telefone. Sim minha querida, muitas saudades de nós crianças…

    2. Denise Argemi says:

      Lembro do dia que te conheci há alguns anos, no lançamento de um livro teu. Tenho quase certeza por apresentação do Tedesco, no Barra Shopping.
      Recordo que pensei com os meus comigos: “taí uma menina que gostaria de ter como irmã caçula”.
      Fico feliz que continues a ser uma mulher perspicaz, inteligente e atenta à essência da vida, que são os nossos afetos mais caros, sem deixar de ser uma escritora sensacional.

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