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Porto Alegre em noite de climão

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Fotos por Gabriel Aita Ost

Na última quinta-feira, 9 de maio, Letícia Novaes, artisticamente conhecida como Letrux, se apresentou pela quinta vez em Porto Alegre com a turnê do seu primeiro álbum em carreira solo. Letrux Em Noite de Climão foi lançado em 2017 e esteve presente em diversas listas de melhores do ano. Aclamado pela crítica e pelo público, o disco rendeu uma turnê de quase dois anos que agora se encaminha para o final.

Foi o quarto show da Letrux que tive o prazer de assistir. Os outros três foram uma surpresa para mim — por mais que o setlist fosse quase o mesmo, a artista tem peculiaridades e esquisitices (no bom sentido na palavra) que transformam todo show em um espetáculo único.

Letícia fala o que dá na telha, conta histórias da sua vida e compartilha angústias que facilmente conseguimos nos identificar. Nas outras oportunidades em que estive diante dela, além de estar cumprindo papel de espectador na plateia, também me senti amigo ouvinte. Sempre saio do show com a sensação de que ela falou diretamente comigo; que muitas coisas de suas experiências eu deveria levar como aprendizado para a minha vida. Assim, cheguei no Opinião com expectativas lá em cima — e que obviamente foram atingidas. Antes de falar do show principal, devo destacar as duas apresentações de abertura. Primeiro, a artista Alice Kranen subiu ao palco para cantar músicas autorais e covers de canções já consagradas. Não a conhecia, mas sua voz e carisma me deixaram curioso para procurar mais e acompanhar sua carreira.

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A segunda apresentação foi surpreendente para mim. O artista de rua Margarina Bailarina trouxe seu trabalho para dentro do Opinião, ressignificando os sentidos do espaço e transformando-o em um ambiente onde a arte vai além do palco. O espetáculo foi no meio do público, fazendo com que grande parte dos espectadores se sentassem no chão para assistir aos números que envolviam humor, dança, equilíbrio e malabarismo. Infelizmente, o artista não pode fazer o Grande Número de Fogo, mas espero ter a oportunidade de ver Margarina Bailarina novamente para assistir a sua apresentação completa.

Então, chegou a vez de Letrux e sua banda subirem ao palco e trazerem o climão de seu álbum novamente a Porto Alegre. Logo na primeira música do show, que também é a canção que abre o álbum, a artista mostra que usa seu espaço e sua visibilidade para abordar assuntos importantes e controversos quando tratados no contexto em que o Brasil está inserido atualmente. Letícia, intervindo na música “Vai Render”, recitou:

“Maria Sapatão, Maria Sapatão,
De dia é Maria, e de noite
Não é da sua conta

Olha a cabeleira do Zezé,
Será que ele é? Será que ele é
Lula Livre?”

Durante vários momentos do show, Letícia mostrou sua posição política e se opôs ao preconceito e opressão de minorias, assim como costuma fazer sempre que se apresenta. Na sua apresentação no Lollapalooza deste ano, além de homenagear Marielle Franco, ela chegou a criticar o próprio festival por pagar 50 reais por dia para moradores em situação de rua que trabalharam na montagem da estrutura do evento.

Houve outras intervenções durante o show — para falar sobre a importância da memória, gritar Fora Bolsonaro, contar como conheceu o significado da palavra “porra” e para limpar água que derramou no palco por medo de levar choque. O que eu via no palco não era uma artista intocável, como costumo pensar em relação a outras cantoras com a mesma visibilidade que ela, mas sim um ser humano. Em nenhum momento dos quatro shows em que estive presente eu esqueci que estava assistindo a uma pessoa que tem problemas, necessidades e angústias assim como eu. É diante de tamanha humanidade que Letrux constrói sua identidade como artista.

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Para cantar “Que Estrago”, música sobre sexualidade feminina, Letrux chamou ao palco a cantora Juliana Linhares para acompanhá-la. Mesmo não sendo minha música preferida do álbum, com certeza foi o melhor momento do show.  As duas contagiaram o público com a energia de suas presenças de palco, fazendo todo público cantar em coro enquanto pulávamos ao ritmo da música.

Importante destacar, mais do que tudo, a incrível presença de palco da artista. Por mais que seja maravilhoso ouvir o Letrux Em Noite de Climão nos meus fones de ouvido, presenciar a Letícia performando ao vivo é uma experiência única. É difícil relatar tanta grandiosidade, expressão e energia em palavras. Diante de tanta personalidade, expressa com a cor vermelha, me vi novamente apaixonado de forma intensa pela Letrux, me surpreendendo positivamente pela quarta vez assistindo ao seu show.


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Para a tristeza de quem não teve a oportunidade de assistir à turnê do álbum Letrux Em Noite de Climão, esse foi, provavelmente, o último show na capital gaúcha. Mas, para a felicidade de quem acompanha a carreira da Letrux e, assim como eu, ouve seu álbum quase que diariamente, boas notícias: a cantora adiantou que seu segundo álbum vai ser gravado ainda neste ano. A perspectiva é de que o álbum seja pisciano e seja lançado logo nos primeiros meses de 2020, após o carnaval.  Por ser do melhor signo do zodíaco, minhas expectativas em relação ao novo projeto já estão lá em cima. Agora, só me resta aguentar a ansiedade e botar na minha cabeça que o próximo álbum vai render — e muito!

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Por Leonardo Francisco

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