No final da tarde de uma sexta-feira, estava eu dentro de um ônibus lotado enfrentando o bendito trânsito de Porto Alegre. Como se não bastasse a tristeza de estar indo para a aula (enquanto muitos dos meus amigos já estariam “sextando”), a gripe me pegou de jeito e me fez passar a semana toda como um zumbi.
Segundo Newton, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas dentro de um coletivo essa lei não se aplica. Assim que assisti pela primeira vez o documentário “Os pobres vão à praia”, fiquei abismada com a quantidade de pessoas que se empoleiravam para pegar o ônibus lotado, apenas pela simples motivação de curtir um dia de sol nas praias cariocas.
Após um longo percurso tentando me equilibrar e segurar na barra, o ônibus foi se esvaziando e consegui avistar um banco para sentar. Logo agora, que faltavam apenas algumas quadras para o meu ponto final. Foi durante esse trajeto de 15 minutos que me lembrei daquela brincadeira muito frequente em festas infantis: a dança das cadeiras. Quando chego à plataforma da Estação Mercado, é praticamente isso que eu vejo. Dezenas de pessoas se digladiando para conseguir um assento no trem. A diferença é que, neste caso, não existe música de fundo e não é preciso esperar que ela acabe — a disputa começa quando as portas se abrem.
Para a minha surpresa, ao abrir o Instagram, vejo que alguém conhecido compartilhou um stories. A foto mostrava a parte traseira de um banco de ônibus que rabiscava a frase: “Compartilhe seus privilégios… Sentar com o ônibus lotado pode ser um deles. Tente oferecer o lugar”. Coincidência? Acho que não!
Lembrar disso me fez perceber que a vida nada mais é do que uma dança das cadeiras. Estamos sempre correndo atrás do nosso “lugar no mundo”, mas o espaço que ocupamos hoje não será o mesmo que ocuparemos daqui a 10 minutos ou 10 anos. A vida não tem assentos reservados ou marcados; Não tem espelho de classe; Não tem trilha sonora.
Ao escrever este texto, me lembro de outra brincadeira da infância, dessa vez, de mau gosto. Se você nunca teve aquele colega pestinha que puxou a cadeira quando você ia sentar, é privilegiado, sim!
Muitas vezes, alguém irá tentar pegar o nosso lugar, nos tirar de cena ou do jogo. Sabe o que pode evitar a decepção de uma queda? Lembrar-se de que todo mundo, algum dia, já passou por uma situação complicada — já pensou estar no chão ou no fundo do poço —, mas, assim como na dança das cadeiras, a vida sempre dá voltas.
Retorno para casa com o pensamento de que devo oferecer mais da minha bondade e empatia — ceder um assento —, compartilhar a cadeira, a posição e os privilégios. Pensar nisso me deixa um pouco mais contente, esperançosa, talvez. Saber que a vida é feita de altos e baixos me traz, nos dias ruins, a consciência de que logo a tempestade vai se acalmar. Em breve, os dias bons hão de chegar, e a dança das cadeiras que a vida é ao meu favor vai jogar.
Por Tainah Gil