O meu amigo Vitor Raskin é uma pessoa que quase sempre diz verdades para quem ele gosta e está disposto a ouvir. Não raro, elas não são exatamente “música aos nossos ouvidos”, mas sem dúvida, são quase sempre necessárias.
Numa noite quente dessas, ele me olhou rabiscando listas sem fim de compromissos, frases aleatórias e deveres na minha agenda e disse: “Me diz uma coisa, quem tu achas que estás enganando rabiscando e escrevendo feito uma louca nessa tua agenda? Vai me dizer que tu consegues fazer tudo isso em um único dia?”.
Eu só ri na hora e pensei: “Pois é, quem será que eu penso que estou enganando tão atarefada assim, tal qual prenuncia a minha agenda…”. Isso foi no verão passado. Antes da pandemia, estávamos na casa dele e eu já caneteava freneticamente na agenda, então ainda nova, do emblemático 2020. Não deixei de listar meus compromissos, demandas de trabalho e metas que desejei realizar durante o ano inteiro que passou. Mas em nenhum dia sequer de 2020 eu deixei de pensar na bem-humorada observação do meu amigo.
A agenda de 2021 já está aberta, cheia de páginas em branco e linhas vazias à espera das minhas mil e umas letrinhas lindas. Usar agenda é um dos tantos rituais, hábitos e jeitos de fazer as coisas a que me habituei e cultivei ao longo da vida. Também gosto de pular 7 ondas, comer 7 uvas, lentilha e de comprar calcinha nova com a cor do ano na virada.
Ah, os hábitos… Uns bons, outros absolutamente desnecessários e inúteis, alguns ruins ou pouco saudáveis e nutritivos para alimentar o nosso faminto e vulnerável centro de equilíbrio. Para que sejamos enérgicos e serenos na mesma medida e capazes de dar o melhor para si, para o planeta e para as pessoas que nos cercam. Os hábitos e rituais que cultivamos são ferramentas que encontramos no caminho da existência e que temos à disposição para seguir na busca incessante por mais evolução e realização dos sonhos e projetos da nossa alma.
Em 2020, perdemos de tudo um tanto: liberdade, certezas, segurança, rotinas, amigos e os amores dos nossos amigos. Cada um se reinventou como pode.
De tanto rabiscar, rabiscar e desejar nas últimas viradas da minha vida, o yoga e a meditação entraram comigo na Era de Aquário. Voltei a dançar como nos velhos tempos. Com as professoras e colegas da vida toda do ballet da nossa mestra Lenita Ruschel. Umas em Porto Alegre, outras na praia, em SP, no Rio ou nos Estados Unidos. Nossos sorrisos eram exaustos e esbaforidos no final da aula, mas nossos olhares felizes tinham uma esperança que nos transportava, a cada encontro, àquele “tempo feliz” onde nenhuma de nós conhecia o caos.
E, de brinde, em 2020 ainda consegui cortar o adoçante do café e da minha limonada. Dedico a ele e nunca vou esquecer o que o meu amigo e deputado federal que me representa no Congresso Nacional, Afonso Motta, me disse há alguns anos: “Mariana, o mundo se divide entre aquelas pessoas que adoçam o café e as que não adoçam”.
Comecei esse texto antes de 2020 acabar e termino agora nos primeiros dias no nosso novo ciclo. Escrever aqui é o grande e principal rabisco da minha agenda há décadas e vocês aí do outro lado são o meu bálsamo permanente. Mesmo diante de transformações, que para mim estão sendo importantes e fundamentais, iniciar 2021 com a descoberta de que quem eu estava tentando enganar sempre fui eu mesma, está sendo impactante e a cada dia mais surpreendente.
E se em 2020 muitos de nós perderam seus afetos, pessoas amadas e referências, eu tive a sorte de estar mais perto de quem faz sentido para minha vida. Dizendo verdades, estendendo a mão, curando feridas e dando exemplos de força e coragem capazes de mudar nossos jeitos de agir, viver e pensar. Para encerrar reflexiva como o momento sugere, faço das do Vitor as minhas palavras: “E vocês? Estão pensando que estão enganando quem?”. Brincadeirinha. Obrigada meus amigos, meus leitores, meus amores. Sem vocês por aqui, eu nada seria…
Espetáculo! Eu engano minha ansiedade em controlar minhas tarefas. Na real, as tarefas me controlam na maior parte do tempo. Kkkk
Maricota, lindo texto!!!! Feliz ano novo, amada!! Saudades suas, das suas risadas e da sua companhia.
Cada texto teu que leio, me orgulho!!
Beijo enorme!
Crônica maravilhosa!!! Mariana sabes escrever e fico muito feliz pois gosto muito de ti !! Tens muito talento !!! ❤️❤️mariacecilia.sperb@hotmail.com
Obrigado por teus textos! O conteúdos, temas, assuntos, abordagens, enfim, tudo corrobora para que sempre uma luz se acenda, uma chave dentro de nós vire, uma reflexão transborde. Feliz 2021! Muita saúde e vacina pra todos! Um grande e estalado beijo com muito carinho!
Demais Mari! Amei!!! Quem estou enganando? Prometo te contar😉❤️🙏
Essa pergunta é maravilhosa e tuas palavras como
sempre doces e humanas. ♥️
Oi meu amor
Feliz Ano Novo ✨✨✨✨✨🥂🥂🥂🌶🍀🌶🍀🌶🌶
O autoengano também pode ser nossa tentativa de acertar Quem sabe?😅😍
Bj no coração. Te amo ❤️
Ótima crônica, e ótimo questionamento Mari, como sempre muito perspicaz!
Parabéns, Mari querida! Como sempre um belo texto para reflexão! Feliz 2021! Bjs
Linda crônica, como sempre. Parabéns Mari querida e um feliz 2021, com muita saúde e tentativas de nos enganar menos. Bjsss
Que lindo Mari!
Amei a reflexão