Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
“O fato é que ele é irrelevante. Que diferença faz o Chico Mendes?”
Essa frase foi dita por Ricardo Salles, ex-ministro do meio-ambiente, no programa Roda Viva. Em fevereiro de 2019. O estopim para a atriz e ativista ambiental Lucélia Santos revisitar os áudios que há 31 anos não tinha coragem de ouvir novamente.
Os áudios são das seis horas da entrevista com o seringueiro, ambientalista, ativista e sindicalista Chico Mendes. Lucélia entrevistou Chico em 1988, mesmo ano de seu assassinato.
A raiva diante da declaração de Salles a fez abrir seu baú em busca das fitas. E transformar o ódio em expressão artística para mostrar o legado de Chico Mendes através do espetáculo Vozes da Floresta – Chico Mendes Vive.
No sábado em que a peça estreou em Porto Alegre, eu e meu marido, Rodrigo, assistíamos à série Elite, em casa, quando nos pediram para fotografar o elenco de Vozes da Floresta – Chico Mendes Vive, formado por Lucélia Santos e Francisco Carvalho. Ao fazer as imagens, em um restaurante atendido pela nossa agência, a Estúdio Telescópio, recebemos ingressos para o espetáculo. Como a Mariana Bertolucci não podia ir conosco, convidamos nossa madrinha de casamento Ada Herz para nos acompanhar.
Vozes da Floresta desempenha o papel mais fundamental que a arte tem: o de nos fazer pensar. Quando assisti, adentrei em uma experiência profunda, pesada e dolorosa. Porém necessária.
A experiência de conhecer o movimento de resistência dos seringueiros acreanos na chegada dos latifundiários para desmatar a floresta nos anos 1970. A experiência de conhecer a história de Valdiza Alencar, seringueira e uma das principais lideranças sindicais dos trabalhadores da floresta no Acre, interpretada por Lucélia no primeiro ato, que vai até o assassinato do seringueiro Wilson Pinheiro.
A experiência de conhecer a história de Dona Cecília Mendes, tia de Chico, também seringueira. Ela fez parte da reorganização sindical no Vale do Acre após a morte de Wilson Pinheiro. E a experiência de conhecer as circunstâncias escusas do assassinato de Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988.
Nem sempre nossas experiências boas são alegres. Mas nem por isso deixam de ser necessárias e catárticas. Saí do Theatro São Pedro naquele 18 de março de 2023 com os olhos marejados e um nó na garganta para uma conversa rápida com Lucélia. Gentilmente, ela nos atendeu para responder duas perguntas. Captamos o áudio para o podcast Bá que Papo.
Retornei para casa aquela noite com muitas dúvidas sobre o futuro da floresta Amazônica e sobre os rumos da luta dos povos originários e serigueiros. Mas com uma certeza: quanta diferença fez Chico Mendes.
No Podcast Bá que papo desta semana, convidamos Ada para conversar conosco sobre o Vozes da Floresta, Chico Mendes Vive. Formada em Relações Internacionais, ela compartilhou seu conhecimento sobre a questão ambiental e o que viu quando viajou à Amazônia. E nos contou sobre a luta indígena pelo território do Morro Santana, que ocorre hoje em Porto Alegre.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio