Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Finalmente, após ser muito aguardada, chegou a versão brasileira da franquia Drag Race, o reality norte-americano de RuPaul. E qual a relevância disso?
Para alguns, possivelmente, nenhuma. Muitos pensam, arrisco dizer, que é só uma competição entre homens de peruca, entretenimento puro para “os gays, LGBTs, povo animado”. Nada de político nisso.
Se eu afirmar que a arte drag é, além de um movimento artístico, uma manifestação política, representativa e essencial na luta pelos direitos da população LGBTQIA+, parecerei, para muitos, repetitivo. Cansativo. Redundante. E entendo quem pense assim.
Parece, afinal, existir uma briga eterna e diária, na qual nós, pessoas da comunidade LGBTQIA+, entramos para sermos respeitados e assegurarmos a manutenção dos nossos direitos adquiridos. E isso pode parecer redundante e desnecessário. Mas, por incrível que pareça, sim, ainda precisamos ser repetitivos, cansativos e redundantes para não sermos desrespeitados e não termos nenhum direito a menos. Tivemos uma comprovação disso esta semana.
Na última terça-feira, dia 5 de setembro de 2023, foi adiada pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados um projeto de lei que busca proibir o casamento e a união estável entre pessoas do mesmo sexo. A discussão deve ser retomada na próxima quarta-feira, dia 13, quase uma semana depois que este texto estiver publicado.
Elaborado pelo deputado Pastor Eurico (PL-PE), o parecer veta a possibilidade de que esse tipo de união seja equiparada ao casamento heterossexual ou tratada como “entidade familiar“. Ele defende que o texto de 2007, do deputado Clodovil, e outros sete projetos apresentados sejam rejeitados, e que seja aprovado o texto que proíbe o casamento civil homoafetivo. Na prática, o pastor defende em seu projeto a ideia de que a Constituição determina a união estável apenas entre homem e mulher.
Quando eu digo que é significativa a primeira edição do Drag Race Brasil, cuja estreia ocorreu no dia 30 de agosto no Paramount+ e na MTV, e que a arte drag é, além de um movimento artístico, um movimento político, é sobre isso. Nossa existência enquanto pessoas LGBTQIA+ é política. Seja performando a arte drag, seja apenas vivendo, casando, tendo filhos, formando nossas famílias.
Embora pareça repetitivo e uma busca por “privilégios” a nossa eterna luta por dignidade, esse projeto de lei é um lembrete. Eles ainda estão por aí, desejando cassar nossos direitos já adquiridos. Eles nos querem de novo fechados em armários, e que as drag queens saiam da TV e ocupem lugares marginais, de onde, para eles, nunca deveriam ter saído.
Contudo, enquanto eles dão os seus recados de lá, nós damos os nossos de cá. Existimos e resistimos. Com nossas vidas, nossos casamentos, nossas famílias, nossa comunidade e nossos realities de drag. Mas só tenho uma coisa a dizer. Sobre nossos direitos, caso não tenha ficado claro, a mensagem é direta: nenhum a menos.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, eu e meu marido, Rodrigo, falamos sobre os dois primeiros episódios do Drag Race Brasil. Ouça agora o episódio no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio