Se tem uma verdade na vida é que você, um dia, assim como toda a humanidade, obedeceu a um médico. Pode ter adorado. Pode ter demorado. Procrastinado. Antecipado. Não importa. A regra é clara: a gente obedece a esses seres estranhos, sem nenhuma garantia de que eles estão certos. É a confiança. Na pandemia, principalmente, isso ficou muito evidente.
Não tiro a razão! Eu, por exemplo, não gosto de ir a médicos. Tudo o que acontece eu pergunto para minha psiquiatra. Acho que terapeuta é um eufemismo para médico. Ou é só uma questão de confiança. Ela sabe tudo o que se passa na minha vida nos últimos 10 anos, sem filtro. Tudo eu pergunto para ela. Só em último caso eu vou a um médico. Totalmente errado… mas não posso mentir.
O que acontece, então, quando a gente confia em homens que estão prestes a fazer o juramento de Hipócrates – manterei por todos os meios a honra e as nobres tradições da profissão médica – que ficam seminus e simulam masturbação ao lado de mulheres que jogavam vôlei?
Que tipo de confiança é possível ter em profissionais assim? Que tipo de médicos eles serão? Que tipo de ética eles têm?
O vídeo que viralizou há poucos dias nas redes sociais evidencia a total insanidade da sociedade que vivemos. A mesma sociedade que tem um prefeito democraticamente eleito que defende, publicamente, a intenção de castrar mulheres para reduzir o número de crianças na cidade. Estamos doentes; gravemente doentes e feridos. Precisamos de socorro. Mas aqueles que deveriam trabalhar para nossa cura, nos adoecem ainda mais. Como confiar?
Enquanto você lê esse texto, uma mulher está sendo assediada. Odeio gerundismo. Mas ele, aqui, é necessário. Diariamente, milhares de mulheres são vítimas de importunação sexual nos transportes públicos; outras milhares são vítimas de assédio sexual; outras milhares de violência doméstica; outras milhares de violência psicológica…
Ao mesmo tempo, homens falam publicamente que querem nos castrar, outros tentam parecer viris cometendo assédio em público, a política partidária acaba com cotas para mulheres no Congresso… Temos que viralizar esse vírus do machismo cada vez mais. Porque só quando viraliza, atitudes são tomadas. Não porque é o certo, mas por imagem e pressão. Que seja. Só assim chegaremos a um mínimo denominador comum: igualdade.
Flávia Moreira, jornalista