Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
O ano era 2022. Mês de novembro. Início da campanha mundial de combate ao câncer de próstata. No grupo da família, começaram a circular os primeiros memes.
Um deles continha a imagem de uma mão enorme, com o dedo do meio avantajado de forma bastante grotesca. “Novembro Azul, não esqueça do seu exame”, eram os dizeres.
A minha vontade foi de, instantaneamente, responder, condenar de forma veemente a brincadeira de mau gosto. E sem graça. Porque, vamos combinar, não é engraçado. Mas preferi ignorar. Fiz errado. Não dá pra brincar com determinados assuntos. Principalmente quando se trata de saúde e de algo grandemente sensível: a masculinidade.
No dia 1º de novembro, a CNN Brasil publicou esta reportagem, que traz uma pesquisa inédita da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a qual revela que 46% dos homens acima dos 40 anos vão ao médico somente quando apresentam algum sintoma. Isso em um cenário em que o câncer de próstata é o segundo mais comum entre o público masculino.
Eis que, esta semana, ao pesquisar dados sobre o Novembro Azul no Instagram, me deparo com um vídeo protagonizado pelo Antônio Fagundes, no qual ele questiona: “A pergunta que fica é: Quando é que você vai liberar esse cu? Colocar o cuzinho para jogo é a melhor forma de se prevenir contra essa doença que é responsável por 28% das mortes quando se trata de neoplasias malignas”.
A minha reação foi que, sem sombra de dúvidas, tratava-se de, assim como o meme compartilhado no grupo da família, uma piada de mau gosto. Só que, desta vez, um pouco menos grotesca. Fiquei espantado, inclusive, com a perfeição da deep fake, e me questionei o rumo que a humanidade tomaria diante da perfeição daquelas imagens, alteradas por meio de inteligência artificial. Bom, isso foi o que pensei.
Para a minha surpresa, porém, não se tratava de um vídeo falso. Era real. Antônio Fagundes falando por quatro minutos coisas no canal Porta dos Fundos. Imaginei que toda a internet compartilharia da mesma opinião que a minha sobre isso. Ou seja, o entendimento de que só poderia ter sido um surto.
Como uma figura pública do gabarito de Antônio Fagundes faria esse desserviço? Por que jogar contra uma campanha séria de saúde, cujo objetivo é desmistificar um assunto tabu, que faz os homens, com sua masculinidade frágil, temerem por sua própria sexualidade ao simplesmente falar sobre urologista e exame de toque? Mas me surpreendi ao descobrir que as opiniões se dividiram.
Enquanto alguns compactuam com o mesmo pensamento que eu, outros acharam a ideia genial. Muitos compraram a ideia de que foi uma boa sacada trazer tal abordagem. Naturalizada e sem frescura. Uma nova forma de tentar se conectar com público alvo da campanha Novembro Azul. Afinal, há anos que se fala de forma séria sem surtir nenhum efeito. Por que não tentar algo diferente?
Questionei se eu deveria me esforçar para tentar enxergar da mesma forma. Se talvez parte das pessoas estivesse certa e eu estivesse errado. Fiz esse exercício aberto, sem bloqueios. Ao final, contudo, continuei com a mesma opinião. O vídeo não é legal. Ou estou errado?
No podcast Bá que papo desta semana, falamos sobre a estreia do reality Corrida das Blogueiras, comentamos a edição número 30 do Prêmio Multishow e opinamos sobre o vídeo do Porta dos Fundos, protagonizado pelo ator Antônio Fagundes, em que ele aborda a campanha Novembro Azul.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio