Falta de sociabilidade. Desinteresse no outro. Imediatismo. Escassez de paciência e tolerância. Dificuldade de concentração, de foco. Apatia. Ego. Características comuns.
Parece que, poucos anos atrás, éramos melhores. Não tão fechados para uma convivência com o mínimo de interação. Mais sociáveis, cordiais e abertos ao outro. Com mais “bom dia” e menos curtidas. Mais gogó e menos toques na tela do celular. A invenção do smartphone, na minha percepção, nos jogou ladeira abaixo.
O problema não é a internet. No entanto, quando colocamos na palma da mão uma janela para as redes sociais e suas notificações, o mundo real à volta deixou de ser tão interessante. É essa a sensação que tenho.
Vanessa Lopes — a tiktoker que desistiu do Big Brother Brasil 24 — deixou o programa após dizer, várias vezes, que os demais participantes eram atores e que o enredo da edição era a sua vida. Falou-se em uma suposta abstinência do TikTok, embora não se saiba, oficialmente, o que aconteceu.
Sejamos honestos. Muitos de nós poderíamos ter um surto por falta do celular. Eles tornaram-se uma extensão de nosso corpo. Já tive, por exemplo, ataques de ansiedade e irritação ao não encontrá-lo. Ao buscá-lo pra quê? Pra nada. Só pra rolar o feed do Instagram e conferir se alguém mandou mensagem no WhatsApp. Sinistro.
Por isso, estamos mais propensos a não querer contato físico, olho no olho, vida real. Parece uma fobia social, às vezes. E não poderia ter um filme mais certeiro para assistir e refletir sobre isso do que a Sociedade da Neve.
Indicado ao Oscar 2024, na categoria melhor filme estrangeiro, o longa-metragem conta a história real dos 16 jovens que sobreviveram 72 dias em uma região remota da cordilheira dos Andes. Mais de dois meses no frio intenso, cerca de-30ºC. A uma altitude de aproximadamente 3.500 metros. Após o trauma e da queda de uma aeronave que saiu do Uruguai em direção ao Chile, com 45 pessoas a bordo. Com ferimentos. Tendo como única alternativa de alimentação os corpos dos que morreram.
Os 16 amigos jamais teriam sobrevivido sem superação, amizade, união, respeito, generosidade, cooperação, esperança, confiança, sensibilidade, empatia, força de vontade e paciência. Se fossem egoístas, imediatistas, intolerantes e impacientes? Você imagina nas pessoas, hoje, toda essa resiliência, resistência emocional e capacidade de superação?
Claro que outros fatores o levaram à sobrevivência, como o fato de serem jovens e saudáveis. E que eles não representam o comportamento de todas as pessoas daquela época, assim como nem todas as pessoas hoje se enquadram nessas características de individualismo que citei. Mas é de se pensar.
Esta semana, no podcast Bá que papo, falamos sobre o longa-metragem A Sociedade da Neve, os indicados ao Oscar 2024, a saída de Vanessa Lopes do BBB24 e nossas impressões a respeito do filme da Turma da Mônica Jovem. Ouça agora no Spotify clicando aqui.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio