Em uma parceria inédita, a Fundação Iberê e o MARGS inauguram exposição simultânea de Carlos Vergara neste sábado (24/2) às 11h, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria Estadual de Cultura – SEDAC, e, às 14h, na Fundação Iberê. A dupla visita guiada será conduzida pelo curador Luiz Camillo Osorio e pelo artista, e, seguida por uma conversa com os dois no auditório. A exposição Carlos Vergara: Poética da Exuberância tem curadoria do carioca Luiz Camillo Osório e é a primeira vez que uma única exposição o ocorre simultaneamente, em duas instituições. É da casa-ateliê de Vergara, que fica no topo de Santa Teresa, bairro boêmio e residência de artistas consagrados do cenário nacional, que saem preciosidades – algumas das quais expostas na Fundação Iberê e, outras, no MARGS. O artista é conhecido internacionalmente, assim como Iberê Camargo, de quem foi aluno e assistente.
As mostras reúnem, no segundo andar da Fundação, 69 obras, e outras 19 em duas salas no MARGS. destacando desenhos e pinturas em papel, da década de 1960 nunca expostos, e produzidos quando Vergara trabalhava com Iberê no Rio.
Além do diálogo com Iberê, Luiz Camillo conta em seu texto curatorial que Vergara se apropria da liberdade gestual de Wesley Duke Lee: “A linha ganhava densidade política e era mais mancha que contorno. Ela se movimenta pelo papel com fluência, mas o seu tom é grave. Seu desenho parece sempre na iminência do grito, eles não falam baixo. Vergara é mais trágico do que lírico – isso se desdobra pelo resto da sua obra. Vergara olha em todas as direções, tem interesse genuíno pelo que rola à sua volta, daí sua exuberância plástica e visual. Isso o leva a ‘olhar para fora’, como ele gosta de dizer, explorando intensidades episódicas que irrompem no meio do caos, da opressão, da desigualdade”
Nascido em Santa Maria (RS), em 29 de novembro de 1941, ainda criança, Vergara mudou com a família acompanhando o pai, reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, até que em 1954, se estabeleceram na capital fluminense, a partir de onde vem desenvolvendo, desde a década de 60 toda a sua produção artística e trajetória.
Aos 22 anos, foi aluno e assistente de Iberê no ateliê da Lapa, época em que também jogava vôlei profissionalmente. As memórias dessa época são muitas e intensas como o ex-pupilo relata abaixo:
“Ele (Iberê) ficava com ódio, porque chegava seis e meia da tarde, e eu dizia que tinha que ir embora por causa do treino. Ele ficava louco: ‘Não pode! Ou tu és artista, ou esportista’. Eu acho que daí nasceu uma amizade muito grande. Eu conto uma história que é verdadeira: às vezes, o Iberê ficava muito brabo com uma coisinha mínima no quadro. Ele gastava aquela tonelada de tinta, mas não gostava… E eu falava: Iberê, tá pronto! Tá pronto, não mexe mais, pelo amor de Deus! E ele: Não, tchê, aquele troço tá me agoniando! Ele ia lá e, pronto, estragava tudo. Um dia, tinha um quadro enorme, que tinha ficado pronto. Ele já tinha sentado, eu havia lavado tudo, havia limpado a paleta, que era um carrinho de rodas… Depois, quando já estava em casa, de repente, liga a Maria: Vergara, vem pra cá, que ele tá querendo mexer de novo! Foi uma convivência muito intensa mesmo. (…) Durante os anos em que trabalhei com Iberê, eu desenhava muito, e ele era muito rigoroso mesmo. Olhava meus trabalhos e dizia: Rasga! E eu demorei um tempo para saber porque era ruim. E quando ele dizia, entusiasmado: Isto aqui é um desenho! Também demorei um bom tempo para compreender aquilo ali. Mas aprendi”.
Em 1965, Vergara participou da mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, um marco na história da arte brasileira, ao evidenciar essa postura crítica dos novos artistas diante da realidade social e política da época.
Na década de 1970, Vergara volta seus olhos para a grande festa do carnaval do Rio. Um de seus objetos preferidos é o bloco Cacique de Ramos.
É tempo, também, em que desenvolve uma série de projetos premiados para as agências da VARIG no Brasil e no exterior: São Paulo, Cidade do México, Paris, Tóquio, Nova York. A partir dessa experiência multiplicam-se seus trabalhos em espaços arquitetônicos que se estendem até os dias de hoje: BCN, Itaú, Jornal do Brasil, Barra Shopping, Morumbi Tower, entre tantos. A partir dos anos 1980, abandona a figuração e inicia um processo de criação anexando registros de vestígios naturais ou arquitetônicos, transferindo para as telas, em lona crua, pigmentos colocados sobre a superfície de um local, quando captura imagens, imprimindo-as como monotipias, para, em seguida, realizar intervenções com o acréscimo de outras cores, reinventando o real, num trabalho que considera livre.
Em 2003, Vergara esteve em Porto Alegre para acompanhar a inauguração de seu grande painel Todas as Horas – que muitos chamam de Zepelim, por sua forma elíptica –, projetado e confeccionado junto ao Aeroporto Salgado Filho, e que mede mais de 30 metros de comprimento. Ele foi um dos três artistas escolhidos para criar obras para o local. Os outros dois foram Regina Silveira e Mauro Fuke. No currículo do artista já são mais de 180 exposições individuais e coletivas de seu trabalho.
Foto Walter Carvalho