DANIEL SCOLA
Natural de Caxias do Sul, onde passou a infância, Daniel Scola formou-se em jornalismo aos 21 anos. Em 1998, já na capital, começou a trabalhar na Rádio Gaúcha. Dentro do Grupo RBS, fez uma carreira impecável na TV, rádio e mídia impressa. Participou de inúmeras coberturas históricas, como as eleições presidenciais norte-americanas e os terremotos no Chile e no Japão. Foi, ainda, um dos jornalistas que participou do conclave que elegeu o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio o novo Papa, em 2013, como Papa Francisco, na Cidade do Vaticano. Em 2021, aos 45 anos, teve o diagnóstico de um tumor no cerebelo, quando enfrentou o mais auspicioso desafio da sua vida. A primeira cirurgia para retirada do tumor ocorreu 21 dias após o diagnóstico, seguida de três meses de radioterapia, marcando o início do caminho da cura, com superação constante e aprendizado permanente. Scola é pai de duas meninas porto-alegrenses, Joana e Tereza, e prepara para o segundo semestre de 2024 o lançamento de seu primeiro livro, que contará sua história como paciente de câncer. Uma trajetória bonita, árdua, corajosa e com final feliz. Você é inspirador! E, assim como eu, todos os teus colegas, amigas e amigos sentem um imenso orgulho de ti.
Você é um jornalista multimidia: escreve, fez rádio e TV durante grande parte da carreira. Qual veículo brilha mais teu olho?
Desde a faculdade, éramos incentivados a escolher rádio, TV ou jornalismo escrito. Queria ser bom em tudo. O rádio, por razões óbvias.
Qual história que você tem muita vontade de contar?
Se fosse jornalista na década de 40, queria ter entrevistado o Churchill. Atualmente, não consigo ver ninguém com a estatura dele.
As mídias sociais têm um impacto positivo ou negativo em você?
Positivos e negativos. O positivo é que tu podes levar informação para pessoas em todas as partes do mundo. O negativo é que percebo um isolamento das pessoas e a proliferação do ódio. Para isso, imponho controle para ouvir opiniões diferentes da minha, mas sem me estressar com a raiva das pessoas e NUNCA entrar em debates.
Ter vencido o câncer e encarar os desafios da recuperação deve te ensinar muitas coisas todos os dias. Fala um pouco sobre esse aprendizado.
Aprendi várias coisas que antes eram supérfluas. Uma delas, plano de saúde. Sempre dei importância, mas antes do câncer, o plano era um gasto. Hoje é um investimento muito importante. Rede de apoio e estar cercado de bons profissionais também me fizeram muito bem. Rede de apoio: nunca fui abandonado por ninguém. Na hora mais difícil da minha vida, ninguém se esqueceu de mim. No caso do câncer de mama, a maioria dos maridos abandonam as mulheres. Acho isso um ato de covardia. Bons profissionais. Tive a companhia da melhor equipe médica e terapêutica. Eu não podia errar. Bill Gates, Steve Jobs e Richard Branson não chegaram lá sozinhos. Por que eu, um reles mortal, não seria acompanhado dos melhores?
Como foi estar tão perto do Papa? O que você sentiu?
Muito bom. Em 2013, fiz a cobertura do conclave que o elegeu. Em outubro do ano passado, tive a chance de encontrá-lo pessoalmente, graças a um amigo meu, Padre Antonio Hofmeister. Na época do conclave, padre Antonio – figura que vim a conhecer por razões jornalísticas e depois virou meu amigo – era o motorista dos cardeais brasileiros. Atualmente, ele trabalha no Vaticano. Então, o mérito é dele. Quando encontrei o Papa, minhas mãos tremiam. Depois de tudo que passei, encontrar o Papa pessoalmente foi o meu maior presente.
Quais são seus cinco principais valores pessoais, aqueles que você passa para as suas filhas?
Ensino pra elas a não ter preconceito, serem felizes, a ter ética, dou limites e sempre estimulo a aprenderem. Acho que os pais têm uma função fundamental que é deixar uma geração melhor.
ZILÁ BERND
Com 30 anos no Instituto de Letras da UFRGS, outros 15 na Universidade La Salle em Canoas e cerca de 20 como pesquisadora do CNPq, Zilá Bernd acaba de incorporar mais uma nobre missão: assumirá uma vaga na Academia Rio-Grandense de Letras. Professora titular aposentada da UFRGS, cursou uma das primeiras turmas do recém-inaugurado Mestrado em Letras e depois concorreu a uma vaga no Doutorado da Universidade de São Paulo. Na USP emplacou um projeto audacioso: quem era da área de Francês, pesquisava apenas autores de língua francesa da França. A proposta de Zilá foi a de olhar para perto e estudar os autores de língua francesa das Américas, ou seja: Haiti, Martinica e Quebec, o que era, em 1984, bastante ousado. A escolha repercutiu – na volta ao Instituto de Letras em 1988 – numa renovação nos estudos de língua e literatura francesa, criando uma cátedra de Literaturas francófonas das Américas, da qual ela foi a primeira titular por meio de concurso público. Escreveu 40 livros e incontáveis artigos em livros coletivos e revistas acadêmicas no Brasil, na França e no Quebec. Foi uma das primeiras teóricas a estudar literatura afro-brasileira e afro-americana e a divulgar obras que haviam sido invisibilizadas na literatura brasileira, abrindo caminhos para que os leitores, as editoras e as bibliotecas acolhessem essas obras. Recebeu a Ordem Nacional do Quebec em nível de Chevalier (2001) e de Officier (2014) e, em 2009, em Ottawa, o Prix International d´Etudes Canadiennes, das mãos do Governador Geral do Canadá. Super Zilá!
Como é fazer parte da Academia Rio-Grandense de Letras? Que contribuição você imagina que deu e que vai dar?
Algo inesperado em minha carreira. Amigos acadêmicos sugeriram que eu apresentasse minha candidatura. Na eleição votam os 40 membros da Academia e fui eleita entre 11 candidatos para a cadeira 36 de Lindolfo Collor. Colegas como Jane Fraga Tutikian e Katherin Rosenfield, e amigos como Gilberto Schwartsman e Roberto Prymm, me incentivaram a concorrer. Quando soube que havia sido eleita foi uma surpresa. Não achava que venceria a concorrência com candidatos de tão alto nível. Espero participar ativamente como fiz em toda minha vida acadêmica.
Se você pudesse viajar no tempo o que mudaria?
Me candidatava para ser Astronauta…. para poder ver o mundo do alto… Mas enquanto muitos colegas lamentam ter escolhido o Magistério, sou imensamente grata a todas as oportunidades que tive na UFRGS.
Como se interessou pelo Canadá e os autores negros nos estudos de literatura comparada? O que te ensinam ao longo destes anos?
No início dos 80, participei, na Universidade Federal Fluminense, de um evento de literatura francesa para o qual foram convidados autores francófonos do Caribe, da Martinica, do Haiti, entre outros teóricos. Nas leituras de literatura francesa, olhávamos para o longe: a França. Ao nos iniciarmos nas literaturas francófonas do Caribe e do Haiti, passamos a olhar para o perto, para autores como nós, originários das Américas, com um comparatismo literário mais evidente. Durante o doutorado, fui recebida na Université Laval, em Quebec, onde, além dos autores do Caribe, me iniciei nos autores quebequenses. Esses autores enfrentavam os mesmos problemas que os brasileiros: serem originários de países colonizados pelos europeus. Tais comparações deram origem ao Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas (2007), organizado por mim, com 700 páginas. Começava a aventura do comparatismo literário interamericano que deu origem a muitas dissertações e teses de orientandos meus na UFRGS e também a um GT da ANPOLL (Ass. Nacional de Professores de Língua e Literatura), intitulado relações literárias interamericanas que, ao longo dos anos, já publicou várias obras em torno das convergências entre autores americanos de língua portuguesa, francesa, inglesa e espanhola.
Se você estivesse nos portões do paraíso, e Deus perguntasse: “Por que eu deveria deixar você entrar”, o que você responderia?
Responderia: “Amigo, se você olhou para baixo nestes últimos 45 anos, deveria dizer: “Entra, Zilá, você não precisa pedir licença”. Plagiando o poema de Manuel Bandeira, reclamaria se Deus não me recebesse de braços abertos, já que minha vida foi consagrada à leitura, à escrita e ao ensino universitário. Credenciais que por si só não me garantiriam o paraíso; mas o viés de minha escrita, mereceria um lugarzinho já que muito escrevi sobre textos que ficaram por longo tempo invisibilizados, por terem sido escritos por mulheres e por negros e negras.
Quais os motivos que te fazem acordar pronta pra viver todos os dias?
O desafio de escrever um artigo, finalizar um novo livro, preparar uma fala para um congresso literário no Brasil, no Quebec, na França ou outros países. Enfrentar novas leituras de obras literárias e teóricas e o entusiasmo de analisá-las, contestá-las, debatê-las. Todo cuidado é pouco: muita revisão, ética e humildade para enfrentar críticas ou visões diferentes. Além disso ou antes de tudo isso, conviver com meu marido, família e amigos é fonte diária de inspiração.
NOTAS DA SEMANA
MISS YOU, SANDRA
Eleita em 1957 a 4ª Miss Rio Grande do Sul, Sandra Hervé Chaves Barcellos nos deixou ontem e vai fazer falta para as muitas amigas e amigos que cultivou ao longo da vida. Espirituosa, espiritualizada e intuitiva, sua beleza e humor sagaz e inteligente seguirão inspirando e mostrando que a vida pode ser boa e divertida, apesar das dores, das perdas e dos desafios do caminho. Saudades eternas.
RETRATO ARTE
Tonico Alvares se inspirou na Villa Francioni e emprestou seu olhar único para a mostra que será inaugurada na Galeria de Arte da vinícola de São Joaquim, no dia 23 de março, e que poderá ser visitada até 7 de julho. Batizada de BACO, a exposição reúne doze painéis fotográficos em grandes formatos que retratam a experiência do artista e fotógrafo gaúcho na produção dos vinhos e espumantes no interior das caves da pioneira dos vinhos de altitude da Serra Catarinense. Radicado em Florianópolis, onde mantém seu estúdio, o artista já participou de mostras coletivas na França e no Uruguai, e realizou exposições individuais em Estocolmo, na Suécia, e em importantes museus e galerias de Porto Alegre.
MARGS 70
O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) festeja com exposição seus 70 anos. Batizada de MARGS 70 – Percursos de um acervo, a primeira parte será inaugurada no dia 23 de março, às 10h30min, com mais de 200 obras. Baseada no Acervo Artístico do MARGS, a mostra comemorativa ao aniversário do 27 de julho ocupará todo o prédio e será dividida em duas partes. A Parte 1 será apresentada em todos os espaços expositivos do 1º andar, de março a agosto de 2024, e a Parte 2, com outra seleção de obras, estará nos espaços do 2º andar, de maio a agosto de 2024. A ideia é oferecer ao público a variedade de obras marcantes e emblemáticas do Museu, con seu vasto universo de mais de 5.800 obras. A curadoria é de Francisco Dalcol e Cristina Barros.
LUPI
Dirigido por Alfredo Manevy, e produzido pela Plural Filmes em parceria com o Canal Curta, Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor estreou na última semana. O documentário, que celebra o legado do cantor e compositor, ganhou os prêmios de Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora na 17ª edição do Fest Aruanda 2022, e recebeu Menção Honrosa por resgatar a importância de um dos maiores compositores brasileiros interpretado por grandes nomes da MPB. A pesquisa foi feita com materiais de arquivos do músico, além de entrevistas de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Elza Soares. A produção aborda um episódio envolvendo a faixa Se Acaso Você Chegasse. A canção fez parte da trilha sonora do musical de Hollywood Dançarina Loura e foi indicada ao Oscar de 1945. Além de não ter sido consultado sobre o uso da canção, Lupi só recebeu direitos autorais anos após o sucesso e até hoje seus créditos na indicação ao Oscar não foram reconhecidos.
CORTÁZAR E ANTONIONI
Juarez Cruz é o organizador de Cortázar & Antonioni: A História não tem fim que será lançado na próxima quarta, dia 20, das 16h às 22h, no Instituto Ling, que terá apresentação de Sérgius Gonzaga às 19h30min. Em 1959, Julio Cortázar escreveu e publicou o conto Las babas del diablo. Sete anos depois, Michelangelo Antonioni idealizou e dirigiu, baseado no conto, o filme Blow Up. A ideia dos 25 escritores deste livro foi de homenagear os dois gênios da arte, com novos contos, inspirados no texto de Cortázar e/ou no filme de Antonioni. Embora os autores sejam psicanalistas, não se propuseram a elaborar ensaios psicológicos (o que seria bastante tentador dado à riqueza de temas presentes nas duas obras). Cada um dos criadores esteve livre para ver/rever o filme, ler/reler o conto, ler o que quisesse do que já foi escrito sobre essa empreitada semiótica. A única regra foi de que as narrativas se mantivessem independentes e sem trocas prévias. Os contos são o resultado da aventura.
OLGA REVERBEL
Thiago Lacerda e Felipe Haiut estarão em cartaz entre 20 e 28 de março para festejar o primeiro aniversário do Teatro Oficina Olga Reverbel, no dia 27 de março. No primeiro piso do Complexo Multipalco do Theatro São Pedro, a fundação vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) foi inaugurada no Dia Mundial do Teatro. Nos dias 20 e 21 de março, às 20h, Thiago irá apresentará uma leitura dramática do livro de poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade O Amor Natural. Já o monólogo Selvagem, escrito e interpretado por Felipe Haiut e dirigido por Débora Lamm, que aborda o sofrimento das pessoas LGBTQIA+ e a libertação das repressões, será apresentado nos dias 27 e 28 de março, às 19h. Os ingressos para ambos estão disponíveis no site do teatro. O espaço foi criado para receber espetáculos experimentais e tem capacidade para até 120 espectadores.
O quinto ciclo da mostra Narrativas do Feminino foi inaugurado no Museu Julio de Castilhos (MJC). A nova montagem, dedicada ao protagonismo de mulheres negras, exibe itens de fragmentos de vida e de luta de mestras griôs, artistas, educadoras, pensadoras, pesquisadoras, intelectuais e trabalhadoras de diversas áreas e funções.
O Mix Up & Deu o Chic estará mais uma vez na Merci com seu coletivo de marcas superbacanas no próximo dia 21, quinta-feira, das 11h às 20h. Imperdível.
Porto Alegre vai ferver na semana que antecede seu aniversário, dia 26. O South Summit Brazil chega a sua 3ª edição com ingressos quase esgotados. Dezenas de conferências, eventos privados e muito network sobre sustentabilidade e inovação vão dominar o Cais Mauá, de quarta a sexta-feira (20 a 22).