Faz tempo que quero escrever sobre o medo. É uma das coisas que mais atrapalha o ser humano e que mais ouço nos meus atendimentos com Rakiram e Tarot Terapêutico. Essa emoção impede a fluidez da vida porque nos paralisa. Nos faz ficar à margem, como mero espectadores. Mas onde ele nasce? Uma pergunta de uma cliente me fez pensar nisso essa semana.
Ela me procurou por conta do meu trabalho com fórmulas personalizadas de florais para fazer a adaptação de uma gata com um cachorro. No final da conversa questionou: como fizeste para que os teus dois cães aceitassem a nova cachorrinha que tu adotaste?
Na hora respondi teoricamente. Depois fiquei pensando. E a resposta veio muito clara: por que nunca pensei na possibilidade de algo dar errado nessa convivência. Nem por um segundo tive dúvida de que não iria funcionar. Para vocês entenderem, explico. Tenho dois cães mais velhos, com suas manias e donos do território. Daí fui vítima do velho golpe do lar temporário. Mais antigo que esse só mesmo o do bilhete premiado. A dinâmica é a seguinte: o meliante canino ou felino entra pela porta como se fosse passar alguns dias e acaba sendo absorvido como mais um da matilha.
Enfim, Sofie Brigitte Deville (porque veio da vila, como o Martinho) chegou doce, tranquila, uma princesa com cara de bicho de pelúcia e conquistou meu coração. Os irmãos peludos ainda fazem uma certa resistência, mas nada demais. Meu banho, por exemplo, só pode ser assistido pelos dois, ela não entra. Com certeza deve ser algo que leram sobre a corte francesa em que somente os mais privilegiados tinham acesso a momentos mais íntimos do Rei ou da Rainha. É a única explicação lógica.
Voltando ao medo, eu percebo que esse sentimento entra pelas frestas. É um oportunista. Onde não há confiança, ele se insinua. Onde não há certeza de amor, de aceitação, também está ali presente, pronto para atuar e encher a nossa mente de incertezas. A partir dessa vibração acionamos nossas defesas. Não estamos sendo nós mesmos. Mas nós quando estamos sendo ameaçados. O cérebro primitivo entra em ação. É atacar, congelar ou fugir. Nunca é a nossa melhor versão.
Nas sessões que faço é um assunto recorrente. Está por trás das palavras da mãe que tem um filho de meses e está fazendo tratamento para se curar do câncer. Está na voz da filha adulta que nunca se sentiu acolhida pela mãe na infância. Está por trás da dúvida se vai dar ou não conta de dois animais de espécies diferentes.
Mas como se curar desse mal? Na verdade não sei se tem cura. Mas tem maneiras de lidar para que ele não assuma um protagonismo maior e direcione nossas escolhas. Percebo que uma das melhores formas de lidar é olhá-lo de perto. Ir desmontando aos poucos como quem desarma uma bomba. Entender que gatilho nos impulsiona nessa direção e que registro há por trás disso. A compreensão nos eleva de categoria de refém para observadores. Deixamos de apenas sentir para começar a montar esse quebra-cabeça. E o bicho vai ficando menor e pode deixar de morar conosco de forma permanente para ser mais algo mais temporário e eventual.
Liège Alves, jornalista, mestre em Rakiram e terapeuta floral