Adoro teorias da conspiração. Mas não sou paranoico. Uma coisa é lançar assuntos numa mesa de bar. Outra, muito diferente, é brincar de maluco e acreditar na própria loucura.
Não acredito, por exemplo, haver uma Nova Ordem Mundial em curso, com globalistas que usam o movimento ambientalista e a libertação feminina para fundar um totalitarismo planetário. No entanto, existe uma elite econômica internacional capaz de interferir política e economicamente no mundo.
É pouco provável que os Estados Unidos sejam os próprios responsáveis pelo atentado às torres gêmeas. Porém, a campanha militar antiterrorista, em resposta, deu “licença” para invasões em nome do direito à autodefesa.
Não há evidência de que a tentativa de assassinato ao ex-presidente Donald Trump foi encenado. Aconteceu mesmo. Contudo, agora ele tem muito mais chances de vencer a eleição.
Esses exemplos de teorias conspiratórias versus “tem um fundo de verdade se a gente entrar na loucura” dizem o seguinte: dá pra criar devaneios, só não dá pra ir longe demais e levar sério o que a gente imagina. Para as divas pop vale o mesmo.
Uma menina chamada JonBenét Ramsey, de 6 anos, foi assassinada em 1996. Segundo uma teoria, ela nunca morreu. Na verdade, a criança vive hoje com outra identidade: Katy Perry. Sim, a cantora (leia com a voz da Gretchen). É ilógico acreditar nisso. Mas a semelhança entre as duas é inquestionável.
Posso criar minhas próprias teorias. Desde que, no fundo, nem eu acredite nelas.
Quando lançou o clipe de Part of Me, em 2012, Katy Perry foi criticada pelo teor militar do vídeo. Foi levantada, na época, a hipótese de que ela teria recebido dinheiro da Marinha estadunidense para fazer propaganda. Tudo porque, na história do clipe, a personagem termina com o namorado e torna-se uma fuzileira naval. A jornalista e escritora Naomi Wolf publicou: “É uma peça de propaganda para os fuzileiros navais. Queria muito saber se ela foi paga. É uma vergonha. Proponho um boicote a essa cantora de quem eu realmente gostava”.
Naomi é autora do livro O Mito da Beleza, de 1990, no qual argumenta que pressões estéticas são formas de controle e opressão. De acordo com a teoria, mulheres ocupadas sendo magras e bonitas estão distraídas e, por isso, não vão em busca da emancipação intelectual, sexual e econômica. Ela escreveu também Vagina – a New Biography, sobre a conexão entre o cérebro e o órgão sexual feminino, e a relação entre saúde íntima feminina, criatividade, autoestima e poder.
Nunca li nenhum dos dois. No entanto, sei que foram obras consideradas feministas por levantarem pautas importantes. A escritora, porém, é controversa.
Na pandemia, Naomi Wolf perdeu um pouco de prestígio por voltar com teorias da conspiração. Dessa vez, o alvo não foi Katy Perry, e sim as vacinas. Entre as afirmações, ela disse que as vacinas eram “uma plataforma de softwares em atualização, para coletar dados das pessoas por meio de uma nanotecnologia”. Basicamente, a fake news das vacinas estarem implantando chipes nas pessoas. Ela chegou a ser banida do Twitter por disseminar desinformação. A teoria antivacina não tem muito sentido, embora exista uma indústria farmacêutica que fez bilhões durante a pandemia.
E, já que estamos no campo das teorias, eu poderia dizer que, em vez de uma tentativa frustrada de criar um novo hino de empoderamento feminino, no clipe de Woman’s World Katy Perry está, na verdade, fazendo um grande deboche endereçado à Naomi Wolf e um suposto feminismo raso.
Não tem amparo na realidade essa minha teoria — e ainda tem a questão do produtor musical Dr. Luke ter sido acusado de abuso pela cantora Kesha. Embora no clipe de Woman’s World tenha uma referência ao de Part of Me, quando…
Bom, deixa pra lá. É só uma teoria.
No episódio 85 do podcast Bá que papo, chamamos o especialista em cultura pop Gabriel Mahalem para entendermos toda a polêmica gerada na internet envolvendo o lançamento de Katy Perry. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio