“A Lilianzinha era terrivel”, conta a mãe, Eneida. Todos dormiam na casa dos Tito e ela pedia mais uma canção. A música corre nas veias de Lilian Carolina Tito desde bebê. Pai DJ e dono de boate, mãe professora que criou com esforço Lica e a irmã Ana, com quem ela cruzava a Redenção serelepe para o Instituto de Educação em uma aventura entre árvores e sons da natureza:

“Era lindo. Cresci com uma vida simples, via alegria em todos os momentos. Estar com amigos me fazia feliz”. Aos cinco anos, tia Gisela perguntou: “Lilianzinha, o que você vai ser quando crescer?”. E ela: “Cantora!”. A tia devolveu: “Cantora não, cantora vai para a Playboy”. Ela encerrou: “Tudo bem, tia, de dia vou para a Playboy e de noite eu canto”.

O tempo passou sobre skates e patins, imitando Michael Jackson ou Rosana nas reuniões dançantes do prédio, onde montava o som, bolava os convites e era DJ. As férias eram em Imbé e Tramandai, onde o pai teve várias boates, como a Viver a Vida. Aos 14 anos, viu um jogador de futebol dizer que se não fosse jogador seria frustrado. Entendeu ali que precisava cantar. Conheceu o rap e transformou suas letras em música. Aos 18 anos, em uma festa do Dj Hum, ela venceu a promoção em que o melhor rap ganhava um CD com instrumen-tais: *Nesse dia, conheci outros rappers e comecei a cantar em festas e festivais de hip hop. Vieram a Groove James, banda do coração, e a La Bella Máfia, que fez história no rap feminino”. Em seguida, comandava um programa de rádio comunitária e dava oficinas na Febem e para professores. Já abriu shows do Ja Rule e Beastie Boys e dividiu o palco com Marcelo D2 e Afrika Bambaataa, o pai do movimento hip hop: “Ele faria show em São Paulo, mas eu não tinha dinheiro e não conhecia nada. Vendi umas coisas em brechós e fui. Da rodoviária direto para a Galeria do Rock. Dali fui para uma rádio e conheci o Max B.O., que ia cantar nesse mesmo evento. De repente, eu estava no palco cantando com Afrika Bambaataa!”. Entre as muitas parcerias bacanas de Lica está a com o multiinstrumentista Günter Fetter, que compôs, gravou e produziu seu primeiro disco, The Best of Até Agora, lançado no Rio recentemente e que no dia 6 de abril será lançado no Ocidente, para em seguida pegar a estrada. “Nunca fui uma musicista que ama estar no estúdio, minha parada é no palco”.   

É verdade. Paixão que fez com que ela fosse uma das primeiras mulheres a cantar RAP (rhythm and poetry) no Brasil. Como cantora e compositora já realizou shows em mais de 11 países, entre eles, Estados Unidos, Alemanha, Cuba, Chile, Argentina e Japão. ​Contemplada nacionalmente, ganhou o Prêmio Hutuz como melhor rap feminino por sua música Cada dia mais e mais e o Prêmio Açorianos de Melhor música do ano com a Peleia um rap com milonga ao lado da banda Ultramen. Hoje está radicada há mais de 10 anos no Rio de Janeiro, onde se apresenta com vários dos seus projetos musicais. Entre eles o incríveis Bloco da Amy e Tributo a Amywinehouse. Brilha o olho, Lilianzinha!

Saudade gaúcha?

Amigos, familia, Redenção, Mercado Público, roda de chimarrão, sotaque. De viver a cena musical da cidade. Acompanho os amigos.

Encantos do Rio?

O calor convida para a rua, conhecer gente e fazer amigos é fácil. Adoro a Floresta da Tijuca, a praia, sentar em Santa Teresa e fazer sarau. Assim conheci metade dos meus amigos cariocas.

É um momento de…

Amor e muito trabalho! Estou feliz há 10 anos e ele me apoia muito nessa vida inconstante da arte independente.

Quem é Lica e o que deseja da vida?

Sou uma idealista que acredita que um mundo melhor é possível. Tudo que nos acontece, bom ou ruim, é responsabilidade nossa. Levamos nossa vida para onde quisermos, para onde devemos. Fica um “desejo” de que todos descubram sua missão.

A música é…

Transformadora. Já achei que a música era minha, que eu era a minha voz. Quando perdi a voz, descobri que sou apenas um canal para ela existir. Isso me faz querer ser melhor todos os dias.

Qualidade e defeito?

Ansiedade é um defeito, quero as coisas para ontem, mesmo sabendo que tudo tem seu tempo. Sou otimista e alegre.

Artistas que te inspiram?

Erikah Badu, Missy Elliott, Destiny’s Child, Aaliyah, Timbaland, Amy Winehouse, Elis Regina, Tim Maia e Jorge Ben, Céu, Ultramen, Criolo e Simone Mazzer.

Mudar em 2024?

Os política do Brasil, né? Mas como só conseguimos mudar a nós, quero me exercitar mais, comer e dormir melhor e compor muito.

Uma música?

Para dançar: “Long Time”, do Maver Hawthorne. Para pensar: “Por que é Proibido Pisar na Grama”, do Jorge Ben.

Que artistas tu admiras?

Escuto muito o Maver Hawthorne, Rael, Criolo, Rihanna, Sharon Jones, Livia Cruz, The Internet, SBTRKT e Tonho Crocco.

Por Mariana Bertolucci

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