FESTIVAL DA RESISTÊNCIA

O 52º Festival de Cinema de Gramado se firma em mais uma edição como um dos eventos culturais mais importantes e sólidos da América Latina. Embora, esse ano a competição tenha sido apenas em nível nacional, o mais longevo festival do Brasil foi saudado e elogiado pelos profissionais do mercado cinematográfico pela sua resiliência e resistência em se realizar em um momento tão delicado e adverso como o que o Rio Grande do Sul ainda enfrenta após as cheias de maio. A enchente destruiu cidades inteiras, interrompeu estradas e fechou o Aeroporto Salgado Filho comprometendo a infraestrutura básica, a economia do Estado e os negócios de muitos gaúchos. Bravo!!!


E O KIKITO FOI PARA…

Oeste Outra Vez é o melhor filme de 2024. O longa Erico Rassi levou mais dois Kikitos, Melhor ator coadjuvante para o também músico Rodger Rogério e Melhor fotografia para André Carvalheira. O western tupiniquim retrata a fragilidade de homens brutos abandonados pelas mulheres que amam no sertão de Goiás. Uma trama que mergulha na vulnerabilidade violenta do universo dos homens mas traz à tona questionamentos feministas com a presença de uma única atriz mulher no elenco, a bela Tuanny Araujo. Já nos bastidores da produção a presença feminina foi maciça e lideradas pelas produtoras Cristiane Miotto e Lidiana Reis.


CONQUISTADOS PELO ESTÔMAGO

Estômago 2: O Poderoso Chef, de Marcos Jorgefaturou cinco estatuetas de Gramado: de melhor filme do júri popular, melhor ator para Nicola Siri e João Miguel, melhor roteiro para Bernardo Rennó, Lusa Silvestre e Marcos Jorge, melhor direção de arte para Fabíola Bonofiglio e Massimo Santomarco, melhor trilha musical para Giovanni Venosta. Quinze anos depois do primeiro filme Raimundo Nonato é o chef dos chefs na prisão, encantando a todos com sua comida e lábia. Até que um mafioso italiano chega para disputar o controle da cadeia e os pratos do carismático cozinheiro. Vale a pena assistir Estômago antes e depois lotar o cinema para a segunda e premiada parte da trama, que estreia nos cinemas no próximo dia 29.


FESTIVAL DAS MULHERES

A valente edição desse festival é destacada por uma potente presença feminina tanto nas temáticas das obras, quanto nos elencos e bastidores dos filmes selecionados. Superelogiado pelo público, O Clube das Mulheres de Negócios de Anna Muylaert levou o prêmio especial do júri pelo estrelado conjunto do elenco (Cristina Pereira, Irene Ravache, Louise Cardoso, Grace Gianoukas, Maria Bopp, Ítala Nandi, Rafa Vitti e Luis Miranda, entre outros) que apresentou em Gramado uma discussão bem-humorada e importante sobre estereótipos de gênero. Com interpretações expressivas de Felipe Camargo, Titina Medeiros, o norte-rio-grandense Filhos do Mangue garantiu os prêmios de melhor direção para Eliane Caffé e melhor atriz coadjuvante para Genilda Maria. Karen Akerman levou o Kikito de Melhor Montagem por Barba Ensopada de Sangue. Estreando como diretora, Dira Paes aborda em Pasárgada dilemas como mulher, mãe e profissional e ganhou o Kikito de Melhor desenho de som para Beto Ferraz. Clarice Niskier: Teatro dos pés à Cabeça é o melhor documentário.


CURTA GAÚCHO INCRÍVEL

Pastrana é o melhor curta brasileiro. De Melissa Brogni e Gabriel Motta, o curta-metragem de Novo Hamburgo foi eleito o melhor filme da categoria e ainda como melhor montagem e melhor fotografia. Ela é diretora estreante, roteirista e skatista downhill, ele atua no mercado audiovisual desde 2011. O filme já havia vencido entre os curtas gaúchos com os prêmios de melhor produção e melhor filme eleito pela crítica. Ao reviver memórias, imagens e conversas vividas, a skatista Melissa constrói uma linda homenagem para seu amigo Pastrana. Conforme resgata o passado, com a ajuda de seus amigos e familiares, a presença de Pastrana a ajuda a preencher o silêncio e a compreender o tempo.


MESTRAS NA SERRA 

Dirigido por Aíla e Roberta Carvalho, Mestras entrelaça histórias de vida com um drama pessoal que transformou a trajetória da narradora. Primeiro longa documental amazonense exibido na mostra de cinema, Mestras é um mergulho poético na força e resiliência das mulheres que preservam as tradições musicais da Amazônia. Com relatos preciosos e emocionantes, o filme explora as vertentes sonoras da região, desde o samba de cacete ao carimbó, destacando Mestras como Iolanda do Pilão, Miloca, Bigica e Onete, celebrando a riqueza cultural e a importância dessas mulheres na manutenção e perpetuação das tradições amazônicas, revelando a profundidade e o poder de suas vozes e histórias.


ANO QUE VEM TEM MAIS

Camila Morgado assume como curadora do Festival de Cinema para 2025. A atriz atuará ao lado do jornalista, crítico de cinema e professor universitário Marcos Santuário e do ator e diretor Caio Blat, à frente da seleção dos longas brasileiros e documentais no próximo ano. Santuário recebeu uma placa e homenagem promovida pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema e Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Muito elogiada, a incansável Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pela organização do festival, já anunciou a data da 53ª edição do evento: de 14 a 23 de agosto de 2025.


CIDADE; CAMPO

Cidade;Campo entra em cartaz no próximo dia 29, nos cinemas de mais de 20 cidades brasileiras, com ingressos a preços reduzidos, dentro do projeto Sessão Vitrine Petrobras. A estreia mundial do longa aconteceu no Festival de Berlim, onde Juliana Rojas ganhou o Urso de Ouro de melhor direção da Berlinale Encounters. Após, o longa percorreu vários festivais como o Indie Lisboa, onde ganhou prêmio de melhor filme queer. Filmado em São Paulo e no interior de Mato Grosso do Sul, a obra fala sobre migração entre o meio urbano e o rural em duas histórias distintas quase sem nenhuma ligação mas cheia de paradoxos e mensagens subliminares. Fernanda Vianna, Mirella Façanha e Bruna Linzmeyer brilham no elenco principal. Após o rompimento de uma barragem de dejetos de mineração inundar sua cidade natal, a trabalhadora rural Joana, interpretada pela talentosa e querida Fernanda Vianna, que ganhou o Kikito de melhor atriz, migra para São Paulo e começa a trabalhar como faxineira. Já Flávia e sua companheira Mara se mudam para a fazenda que a primeira herdou do pai. Em 2024, Juliana Rojas participou do Júri da Palma Queer do Festival de Cannes e foi convidada, pela Academia de Ciências e Artes de Hollywood, juntamente com mais sete profissionais brasileiros, a participar da entidade.


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