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Setembro Amarelo e a história da poeta Sylvia Plath

“Não dá para me enganar e escapar à constatação brutal de que não importa o quanto você se mostre entusiasmada, não importa a certeza de que caráter é destino, nada é real, passado ou futuro, quando a gente fica sozinha no quarto com o relógio tiquetaqueando alto no falso brilho ilusório da luz elétrica. E, se você não tem passado ou futuro, que no final das contas são os elementos que formam o presente todo, então é bem capaz de descartar a casca vazia do presente e cometer suicídio. Mas a massa fria entranhada em meu crânio raciocina e papagaia, ´Penso, logo existo´(…). Para que serve a boa aparência? Garantir segurança temporária? De que adianta o cérebro? Para dizer apenas “eu vivi e compreendi”?”

Sylvia Plath (Os diários de Sylvia Plath 1950-1962. São Paulo: Editora Globo, 2004.)

Hoje venho aqui para falar de um assunto espinhoso. O suicídio. Em 2013, a Associação Brasileira de Psiquiatria, deu notoriedade e colocou no calendário nacional a campanha internacional Setembro Amarelo e este mês marca a data mundial que tem como lema “se precisar, procure ajuda”. Sabemos de diversos artistas que sucumbiram tirando a própria vida. Uma delas é a norte-americana Sylvia Plath. Vou contar um pouco a história desta poeta ímpar.

Na manhã de inverno de 11 de fevereiro de 1963, Plath veda completamente o quarto dos filhos com toalhas molhadas e roupas, deixando leite e pão perto de suas camas, tendo o cuidado de abrir as janelas do quarto, ainda que em meio a uma forte nevasca.

Em seguida, toma uma grande quantidade de narcóticos, deitando logo após a cabeça sobre uma toalha no interior do forno com o gás ligado, morrendo passado pouco tempo. Na manhã seguinte, é encontrada por uma enfermeira que havia contratado, Myra Norris, que, quando chega ao apartamento, sente um cheiro muito forte de gás. Pede ajuda. A porta é arrombada. Encontram as crianças no quarto lacrado, gelado, e ambas com muito frio.

Plath é considerada um dos principais expoentes da poesia confessional, narrando em seus versos a intimidade e as angústias de uma mulher e traduzindo em literatura a condição da depressão. Nascida em Boston em 27 de outubro de 1932, Sylvia foi filha da primeira geração de descendentes de austríacos nascidos nos Estados Unidos. Desde cedo, demonstrou aptidão às artes: aos 8 anos de idade, teve seu primeiro poema publicado na seção infantil do jornal Boston Herald, o que se tornou frequente nos anos seguintes e em outras publicações regionais.

Em 1950, aos 18 anos, ingressou no Smith College, faculdade de artes voltada só para mulheres. Depois de editar a revista interna da escola, foi chamada para ser editora convidada da revista feminina Mademoiselle, permanecendo por um mês em Nova York. A experiência foi usada como inspiração anos depois para seu romance A Redoma de Vidro.

Durante a faculdade, Plath foi diagnosticada com depressão, chegando a passar por sessões de terapia eletroconvulsiva. Em agosto de 1953, teve sua primeira tentativa de suicídio documentada, ao tomar escondida remédios de sua mãe. Depois do acontecimento, ela passou seis meses sob cuidados psiquiátricos, recebendo eletrochoques e terapia de choque de insulina. Recuperada, voltou à faculdade, formando-se em 1955 com uma monografia sobre o escritor russo Dostoiévski.

No mesmo ano da formatura, Sylvia ganhou uma bolsa de estudos e foi morar na Inglaterra, onde continuou publicando poemas. Em fevereiro de 1956, conheceu o poeta Ted Hughes, que também se tornaria um dos grandes nomes da poesia do século 20. Casaram-se em junho daquele ano.

Em 1957, o casal se mudou para os Estados Unidos, onde continuaram suas carreiras e tiveram dois filhos: Frieda e Nicholas Hughes. No período, Plath começou a explorar a literatura confessional, ao mesmo tempo em que o relacionamento se tornava cada vez mais difícil. Além de ter sofrido um aborto, ela descobriu uma traição do marido. Plath e Hughes se divorciaram em setembro de 1962.

A autora é conhecida como um dos principais nomes da poesia confessional, gênero focado nas experiências e na psiquê individuais do autor. Pouco famosa em vida, Plath alcançou prestígio após seu suicídio – fato que acrescentou uma camada de profundidade em sua literatura melancólica e a consagrou como um símbolo feminista. Seus diários, mantidos desde a infância e tornados públicos postumamente, também narram sua vida de angústias e depressão. Sendo uma das escritoras mais celebradas do Ocidente, suas principais obras são as coletâneas The Colossus and Other Poems (1960, sem tradução em português) e Ariel (1965), e o romance autobiográfica A redoma de vidro publicado logo após sua morte.

Susana Vernieri, jornalista e poeta

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