Quem nunca ouviu, leu ou disse, em algum momento da vida, a frase: “não se pode acabar com o sonho de uma criança”? Tal pensamento, de fato, é compartilhado por diversos adultos. E uma das pessoas que ajudaram a difundir essa ideia nos anos 1980 e 1990 foi, sem dúvida, Xuxa Meneghel.
O Poder do Sonho, É Só Querer, Nunca Deixe de Sonhar e Lua de Cristal são alguns exemplos de canções que têm em comum a ideia de que, para conseguir superar obstáculos e realizar os nossos sonhos, precisamos acreditar em nós mesmos. Mas será que essa filosofia possui amparo na realidade? Acredito que não.
Claro que é importante incentivar crianças a terem ambição, autoestima e confiança para ocuparem os lugares aos quais desejam pertencer. No entanto, a melhor maneira de transmitir essa mensagem — sem dizer apenas “sonhe, que tudo é possível” — é por meio do respeito, do apoio incondicional e da representatividade.
Por isso, ao assistir à série documental Pra Sempre Paquitas, é tão chocante saber testemunhar diversas denúncias de assédio moral cometido por Marlene Mattos, contra meninas com idades entre 9 e 14 anos — que eram chamadas de “putinhas” e gordas, além de serem frequentemente obrigadas a tirarem a roupa para a diretora avaliar o corpo delas. Por isso, é tão chocante perceber o quanto meninas negras foram excluídas da possibilidade de sonhar em ser paquita. Por isso, é tão problemática a condução dos concursos para escolher as novas assistentes de palco de Xuxa.
Uma contradição absurda, se pararmos para pensar, incentivar crianças a sonhar ao mesmo tempo que houve omissão sobre a forma como o fenômeno das paquitas brincou, desprezou e destriui o sonho de uma geração de meninas. Xuxa faz o mea culpa na série documental. Mas sejamos honestos. Tanto naquela época quanto hoje, ainda, nós sabemos: os sonhos são bons. Mas eles nem sempre vêm pra quem sonhar.
Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio.
Esta semana, no podcast Bá que papo, convocamos o Fábio Garcia, do canal Coisas de TV, para comentar conosco a série documental Pra Sempre Paquitas, do Globoplay, que traz à tona a relação das paquitas, Marlene Mattos e Xuxa. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.