Ainda Estou Aqui

Em 23 de fevereiro de 2023, o texto Por memória. Por justiça. Que não se repita.” foi publicado aqui na coluna Bá Experiência. O conteúdo abordou “Todo dia a mesma noite”, a série da Netflix baseada no livro de mesmo nome sobre o incêndio na Boate Kiss.

Contei naquela publicação que, certa vez, um professor perguntou aos seus alunos por que estudamos história. “Para conhecermos o passado”, alguém palpitou. “Para sabermos de onde viemos”, outro tentou adivinhar. “Para entendermos por que o mundo é como o conhecemos?”, um terceiro intuiu. A resposta correta, no entanto, era outra: “Para não cometermos os mesmos erros”.

Julguei, em um primeiro momento, ser um recurso preguiçoso e desonesto contar exatamente a mesma coisa para escrever sobre o filme Ainda Estou Aqui. Logo, porém, mudei de ideia.

O longa-metragem estrelado por Fernanda Torres reverbera um dos períodos mais trágicos da história recente do Brasil: a ditadura. Tão recente que a geração responsável por combatê-la e lutar por eleições diretas ainda está aqui, com o perdão do trocadilho. A mesma geração de pessoas, no entanto, parece ter empobrecido sua capacidade de pensamento se parte dela, que viveu durante o regime militar, é a mesma que aparentemente a deseja de volta ou a minimiza. Essas pessoas fazem isso ao cair em discursos de uma extrema direita cujo flerte com o autoritarismo é corriqueiro, ao serem cúmplices de quem é saudoso dos anos de chumbo e ao elegerem políticos que exaltam torturadores.

Pra mim, que nasci em 1989 — o ano da primeira eleição direta após a redemocratização —, é difícil entender a mente desses cidadãos. Eles estavam lá. Tem memórias sobre discos de vinis com faixas riscadas. Sabem que suas liberdades, como a de pensamento e a de expressão, haviam sido suspensas. Como podem, hoje, insinuar desconhecimento total sobre o que ocorreu?

O professor tinha mesmo razão. Precisamos estudar até a nossa própria história, quase no sentido literal — daquilo que nós mesmos vivemos — para não cometermos os mesmos erros.

A última vez que eu havia publicado na coluna Bá experiência tinha sido no dia 27 de setembro. Sim, fiquei afastado por falta de tempo. Decidi retornar porque estava na garganta esse desabafo, e eu precisava exorcizá-lo. E também, claro, pra avisar que, vez e outra, terá texto novo aqui na coluna, afinal, mesmo que meio sumido, ainda estou aqui.

Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio.

No episódio 103 do podcast Bá que papo, conversamos sobre o emocionante filme brasileiro Ainda Estou Aqui, candidato a uma vaga no Oscar, com as icônicas Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.

CategoriasSem categoria

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.