Sussurrar mentiras suaves já não me interessa mais. Eu quero gritar verdades viscerais. Nunca mais vou dizer coisas banais perto de ti, mesmo que seja carnaval. A minha carne já não bate com teu gosto. Meus cortes flutuando em teus olhares. Pesares guardarei em tuas notas azuis de dois reais do troco do táxi que você vomitou na saída da festa da Mallu. Pensava em você, o cigarro na mão. Pensamento travava a cada tragada.
Tuas coxas no amanhecer vermelho. Os pêlos recém raspados. Estranhando tua textura, vou te descobrindo sozinha nos nossos beijos juvenis de corações que insistem em mudar o mundo do qual ele já desistiu. Desafinar antes de te ver nua pela primeira vez. Lembro das brincadeiras de colégio. Na quinta série eterna dos arpejos. Falsetes das músicas que ouvias quando eu te conhecia. O ritmo fluiu no clube. O jazz já vai voltar. Soviéticos adoram esse farfalhar de tensão.
Tom por tom, cor por cor. Corpo corre desesperança do mal me quer, bem me quer demais. E porquê não há de querer? A Deus dará, ela não vai dar opção por mais que seja de dar. Uma breja no teu fim de tarde não vai mudar nosso destino. Infinito possibilitar teu universo tão particular. O breviário vai guiar esses momentos. Não cabe duvidar. Vou comer teu caviar e arrotar feijão com arroz pra menosprezar o teu capricho, a tua história e a tua vivência. Se eu gosto eu me interesso. Se me interessa eu ponho fé.
Até nas mais difíceis caminhadas, não faltarão pés tortos pra amarrar o meu bode sem chinelo. Coisa de velho costuma é funcionar. Batuque duro de bater, simpatia de cabeça coroada pelos espinhos do nosso protetor. Faz pra crer. Crê antes de mais nada, até se a luz faltar, se você não o enxergar. Latifúndio de ideias primitivas, formativas deformadas. Bem apessoado de tuas ideias vou abandonar.
Tá chegando com moral, com fundamento, elemento vai formar. Amanheceu de novo e ela não dormiu. O berço tá vazio e eu te deixei a embalar o sono de quem não dormiu. Onde fomos parar? Os amplificadores seguem zunindo na minha cabeça. A cachaça não desceu bem e seu corpo ficou esquecido e dormente no chão.
Rodrigo Ramos, jornalista e escritor