Não tenho papel. Não tenho destino.

Filiação incompleta e um furor uterino. Há muito tempo que eu ando sabendo errar.

Aos quatros cantos eu fui querendo encontrar algo que me complete. Acolhida não recebi. Todos que me viram falaram em ti. Saudades não deixei em meu hemisfério.

Os pólos eu guardei muito de perto. Os que se diziam irmãos miravam o espelho. Ainda embevecidos com a própria beleza. O recôndito sentimento que não podia. A realeza era seu lugar. Renegando as riquezas e abraçando os estragos.

Te via no esgoto com poucos centavos. Me diziam doente e isso eu não admitia. Punido por ser diferente, por gostar de folia.

No carnaval passado você não estava lá, na exata hora que eu ia te libertar desses delírios de grandeza e de tanta mesura. Célia Ribeiro dá aulas de etiqueta nos bordéis do inferno.

Por minha menina eu sento e espero. Sentado em meu carro ouvindo um som. O barulho que você ouvia me era de bom tom.

Escrevi nessas roupas tudo que condenava. E ardia tão forte que pulei de sacada. Os anjos adormecem para sempre na estação. Esperando a bondade de quem amassou o pão.

Por Rodrigo Ramos, jornalista e escritor

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