Sabe aquelas pessoas que tem uma história bonita para contar e a gente percebe logo nas primeiras conversas. Pois o Horizonte Venzon é um desses caras. Nasceu e cresceu em uma família de nove irmãos: Sônia, Solange e sete homens com h, como canta Ney Matogrosso: Horizonte, Hamilton, Hélio, Hilton, Hércules, Humberto. Do pai, gaúcho de Nova Prata, herdou a veia empreendedora. Da mãe, catarinense de origem russa. Doceira de mão cheia, herdou o dom e o bom gosto pela gastronomia. O irmão caçula, que já faleceu, era o dono do saudoso Bar do Beto, point da beira da praia de Imbé.
E foi “no Imbé” (como dizemos por aqui) que a história bonita começou a inspirar o empresário. A mãe era um aço para o trabalho e uma fera na culinária. Telma Spritz Venzon, além de cuidar da volumosa prole, esteve à frente da Confeitaria Vovó Telma, parada obrigatória no veraneio. Hori sempre gostou de andar em volta da mãe e ajudar na cozinha.
Queria fazer arquitetura mas precisava trabalhar, não tinha tempo para estudar e nem dinheiro para pagar faculdade particular. Escolheu educação física e formou-se na UFRGS em 1985. Trabalhou como assistente do irmão Hércules, que era preparador técnico do Inter. Dois anos depois, dessa vez com o irmão Hilton, começou a produzir doces que eram vendidos na Rede Zaffari. Quando a sociedade acabou, em 1994, o irmão ficou com a fábrica de doces, e ele seguiu sozinho na confeitaria H Venzon, já na casinha de tijolos da REua Nova York, número 72, em Porto Alegre. “Sempre fui exigente, trabalhador, disciplinado e cuidadoso. Não sei se por necessidade, por não ter, eu cuidava do que eu tinha”, explica o gestor. Ele soube aproveitar cada uma das oportunidades e das ideias para transformar seu negócio que foram surgindo ao longo dos últimos 30 anos. “Fui aprendendo na vontade e no desejo de fazer as coisas.”
Ele não queria abrir à noite, mas a insistência da clientela foi tanta que, lá pelo final de 1995, nascia um dos bares mais bacanas e duradouros de Porto Alegre, o NY 72. Naturalmente, foi comprando e colecionando relíquias e objetos temáticos. Aos poucos, o bar foi se enchendo da alma e do estilo da cidade norteamericana mais visitada do mundo. Nas paredes, John Lennon, placas com os nomes dos bairros, retratos e referências à Broadway, ao Central Park ou a Estátua da Liberdade. Com uma bela caixa registradora antiga e repleto de informação e estilo, o pub, que é a cara de Nova York, não demorou a cair no gosto dos porto-alegresenses e a virar xodó de várias tribos diferentes. Durante muitos anos funcionou oferecendo almoço executivo durante o dia, e música e agito à noite, o premiado estabelecimento já tem 28 anos de sucesso. Quase a idade dos gêmeos Artur e Pedro, 27 anos, que hoje são parceiros do pai na administração dos negócios.
Hori é educado, atencioso e conversa com a clientela. Ajudava a servir, e ficava de olho em todos os detalhes. Em 2007, o empresário ocupou todo o terreno e fez sua última ampliação, que deixou a casa maior. O inquieto empreendedor apostou também em uma galeria de arte em 2009 sob a batuta do sobrinho André Venzon, e uma casa de eventos retrô e graciosa. Sob os cuidados do Chef Chaparro, ele também esteve à frente do restaurante contemporâneo 72 In funcionou desde 2012 até 2018 e deu lugar ao Dry. O estilo colorido e pop atravessou a 24 de Outubro e também está na rua vizinha, a Maryland, onde em 2013 nasceu a Love It, loja de decoração e peças bacanas de design assinadas e uma lindeza de cafeteria e confeitaria, na parte de trás, que também abre para eventos. No café, Hori tem outros sócios e conta com a valiosa ajuda da mulher, a maravilhosa Lia Jardim.
Sobre as quase quatro décadas de história, o querido Horizonte finaliza bem ao seu modo, cheio de humildade: “Não esperava da vida tudo o que ela me proporcionou. Eu era um professor de educação física e sonhava em ter uma vida simples. Só posso ser grato. Meu trabalho tem glamour, mas é também muito duro.” Nós sabemos e adoramos, Hori!
Mariana Bertolucci