Shakespeare dizia “Nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos”. Então, concluo que uma parte dos sonhos é composta de suor, carne e osso. Portanto, a matéria-prima deles é densa, terráquea. E, claro, peguei carona na frase, mas estou falando de nossos desejos.
Essa semana terminei de editar um livro. Estava no meu radar há um tempo esse projeto que reúne crônicas escritas durante e no pós pandemia. A autora é uma inspirada professora de 92 anos que tem uma coluna no jornal Gazeta de Caçapava. E, por acaso, minha tia também.
Me gusta a sensação de dar vida a um projeto que pode inspirar pessoas de variadas idades. Inclusive para aqueles que acham que um cidadão considerado idoso não é um ser produtivo e nem pensante. Anna Zoe, por diversas vezes, esteve na contramão do que se esperava de uma mulher da sua geração. Sempre teve sua profissão, foi desquitada em uma época poucas tinham essa coragem, e criou dois filhos praticamente sozinha. Agora, ajuda a quebrar outro paradigma, desta vez com a idade e os preconceitos que o etarismo envolve.
Voltando ao livro, já imagino aquele sinal de “check” verde. Adoro a sensação! Comemoro essas pequenas conquistas e já penso no próximo projeto da fila. Sim, sempre tenho coisinhas que quero fazer. Antes as ideias habitavam o mundo etéreo, se posicionavam mais na mente. Era mais raro se materializarem. Com o tempo aprendi a priorizar e desenvolver estas metas até se tornarem reais.
Acredito que devo agradecer à minha genética por ser alguém que gosta de ter planos. Lembro do meu avô, quando tinha uns 90 anos, pensando em reformar a casa e poupando as melhores roupas para serem usadas apenas em ocasiões especiais. Meu pai aos 80 e muitos anos, depois que uma doença o deixou em uma cadeira de rodas, querendo comprar um carro automático para ter autonomia e voar as tranças. Enfim, acho que sou de uma linhagem que insiste em andar para frente.
Acredito que na superfície todos querem o novo, mas fazer o mesmo é tão mais fácil! Desde assistir aos mesmos canais de TV até escolhas mais complexas. A maioria prefere ter as mesmas dores, medos, incomodações e problemas. São caminhos conhecidos.
Também percebo que é recorrente a dificuldade de elencar prioridades entre os clientes de Rakiram ou da Terapia Floral. Em um mundo com tantas possibilidades é fácil se perder, inclusive de si mesmo, e não ir a lugar algum.
Durante a pandemia, quando o medo da morte pairava no ar por conta de uma doença sem cura, observei que muita gente começou a pensar na sua existência e questionar: estou realizada neste emprego? Este relacionamento me faz bem? Minha casa combina com meu estilo de vida atual? A resposta dessas perguntas promoveu movimentos, rupturas e mudanças. Isso foi a parte visível, mas, com certeza, outros hábitos se instalaram no cotidiano.
Nessa época criei um projeto chamado Plano de Voo, on-line, usando como ferramentas terapêuticas o Rakiram, combinado com fórmulas individuais de Florais de Bach. Essa jornada auxiliou quem precisava fazer foco, se reencontrar, rever prioridades e escolhas. Funcionou como um bote de salva-vidas que transportava os participantes com segurança para a outra margem. Desembarcar em um porto desconhecido e começar de novo pode ser desafiador. Mas ter a certeza de onde a gente quer chegar é a garantia de que estamos no lugar certo. E isso acalma nosso coração.
Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram.
Ilustração: Colagem de Liège Alves