Semana cheia de emoções. Estava sem inspiração para escrever até me deparar com a frase: o que mais te deixa feliz em apenas três minutos?
A frase vem do filme Uma confeitaria para Sarah. O roteiro é doce, os personagens vivem desafios bem reais, como o sentimento de culpa que leva à depressão, o medo de não ser capaz, que faz com que a pessoa nem tente fazer, o escapismo, que traz a dificuldade de estar presente. Até que algo em comum une pessoas em diferentes pontos de sua jornada e as faz voltar a ter um propósito. Não é preciso dizer que a essa altura todos começam a ganhar uma nova vibração um colorido especial. E vão ficando mais felizes e bonitos.
E eu que pensava,em escrever sobre a Criança Interior, a parte solar dela, achei a primeira frase da crônica. Sim, porque o texto começa dessa forma para mim. Vem frases inteiras na minha cabeça. Quando sento para escrever já tenho um primeiro parágrafo ou quase.
Quando falo em parte solar quero dizer a parte menos contaminada do nosso ser, aquela essência mais pura dos primeiros anos de vida que tem uma sabedoria básica nata. Quem não se lembra de alguma história sua assim? Algo que você tirou de letra e resolveu melhor do que os adultos que estavam à sua volta na época?
Ser criança é uma parte da jornada. Não quer dizer ser menos sábia. Ao contrário disso. Não dá para subestimar a capacidade de síntese infantil. Olhar do alto da superioridade de adulto racional e cheio da razão é tombo certo.
E se a gente experimentasse trazer mais dessa doçura para o presente. O que aconteceria? Corremos o risco de simplesmente desabrochar e ser o que somos sem tantos medos. O que há de tão terrível nisso? Aceitar que não somos perfeitos?
É nessa parte da história que entra outra criança, a ferida. E aí vem a complicação. Conforme os traumas que vivemos na infância, vamos criando camadas protetoras e, para não sofrer ou disfarçar a dor, nos blindamos com defesas para evitar sentir isso novamente. Traduzindo: para não sentir dor, sentimos mais dor porque arrastamos esse trauma pela vida afora.
Mas, atenção pais e mães: não se preocupem com suas faltas. Todo mundo é sorteado com algo, como diz uma amiga. Já escolhemos a família conforme o que nossa alma veio aprender. Portanto, é uma questão de evoluir, de aprender. De olhar bem de perto para o que mais nos apavora. Em geral, a gente descobre que o bicho papão não era tão grande. Mas o nosso olhar da época, por uma razão pessoal, nos fez registrar daquela maneira. É como voltar para um lugar da infância e perceber que o nosso ângulo de visão pode ter enquadrado as cenas de forma não favorável. Entender o processo não apaga o passado, mas, com algum esforço, nos traz um presente mais leve e criativo, como toda criança feliz sabe ser.
Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestra em rakiram