Raul Krebs e os irmãos cresceram sem grades e correndo pelas ruas do bairro Petrópolis: “Aos 30 anos, meus pais tinham quatro pestinhas, uma verdadeira confusão. O quinto elemento é mais jovem”. Primogênito de cinco meninos, criado livre e encantado pelos avós intelectuais, ele se lembra com saudosa magia das férias entre o Petrópole Tênis Clube, Tramandaí, Floripa e Garopaba. Depois no Rosa ou no Rio com os amigos, de carona ou de ônibus. Bom era sentir o pé na estrada e a mochila nas costas nos anos 1980 e 1990. No Rosário, no Campus do Vale, onde cursou Sociologia, ou na Famecos, quando fez Publicidade. A comunicação audiovisual já era afeto do avô paterno, sociólogo e também documentarista: “Com 13 anos, ajudava o ‘professor Krebs’, que produziu um acervo de 10 mil fotos e 68 documentários em Super8 que está sendo digitalizado”. Aos 18 anos, queria ser redator. Entrou na Escala, onde aprendeu e fez amigos. Por cinco anos, foi assistente de um fotógrafo que tinha feito moda em Paris e Milão: “Fui abduzido pela fotografia, a simpatia e o profissionalismo do Reinaldo Cóser”. Além disso, muito show de punk, cinema, Oswaldo Aranha e Ocidente. Festas estranhas com gente esquisita a bordo do Fusca azul: “Quis ser punk, pichei muro e vadiei pelo Bom Fim. Também curtia surfar na praia e comida natureba. Sou um “multivíduo” mutante e desejo continuar mudando sempre”, conta o talentoso artista, marido da Gabriela Frühauf e pai dedicado e apaixonado do lindo Pedro.

Uma história do Raul?

O meu estúdio não é Mutante por acaso. Um amigo me apelidou porque dizia que eu tinha um cabeção e que mudava muito. Fui cabeludo, hard rock, care-ca, usei mullets, franjão rockabilly e cabelos verdes.

Trocaria Porto Alegre?

Todas as vezes em que vou para um lugar bacana, penso em passar mais tempo. Consegui voltar para cidades de que gostei, como Amsterdã e Paris, onde estudei portrait. Curto demais sentir a calma das ruas de Montevidéu. Aqui perdemos a calma.

Um sonho é…

O de todo fotógrafo: viver do próprio trabalho e produzir imagens marcantes na vida das pessoas. Se essa produção contribuir para um olhar mais crítico e um mundo mais culto e aprazível do que o atual, melhor.

Um ensinamento?

O Nenung, do Darma Lóvers, me ensinou sobre o budismo tibetano e que “tudo é impermanente“.

Uma verdade que traz serenidade para a vida.

O meu amigo Zico Farina dizia “fazer é libertador”. A prática do fazer liberta de muitas amarras. Mas o maior ensinamento é ser pai.

O que te inspira?

A curiosidade por tudo que vejo. Não pode faltar prazer de fotografar porque o terreno é pedregoso. O fotógrafo tem que saber o que quer fazer e fazer com prazer, curiosidade, alguma excelência técnica, certo arrojo criativo, inquietude produtiva e envolvimento.

Defeito e qualidade?

Talvez o que mais me incomode seja uma ansiedade acima da média. Mas prefiro vê-la como uma inquietude que pode transmutar em propulsor da curiosidade e gerar movimento.

Ídolos?

Mudam com o tempo. Ando ligado em fotógrafos cercanos, como Alejandro Almaraz, Pedro David, Gabriela Mo, Marco A.F., Fabio Del Re e Rogério Reis. Alguns amigos, como a Rochele Zandavalli, que fez meu retrato. Ídolos são os Beatles, Ramones, Bukowsky, Bowie, Helmut Newton, Otto Stupakoff, Joel-Peter Witkin, Cindy Sherman, Francesca Woodmann.

Arrependimentos?

Momentaneamente, talvez algumas coisas. Tudo é parte de uma experiência grandiosamente curta que é viver. Não há tempo pra arrependimentos.

Em 10 anos… Quero estar fotografando, ensinando o que aprendi e sendo um bom pai. Talvez tomando um Cosmopolitan do Vini (Groovaholic) ou da Nani (Capone).

O que te seduz na fotografia?

Adoro trabalhar com imagem e pessoas. Ter objetivo e alcançar com plenitude. Todos os projetos com impacto social positivo são marcantes para mim.

O que mudar em 2024?

Essa vibração belicosa e ruim que está nas pessoas. Queria vê-las mais positivas, leves, aco-Ihedoras e amigas. O mundo anda duro, feito de ferro e pedra. Se conseguíssemos fazer mínimas mudanças, todos os dias. Hoje penso assim, mas amanhã o que penso pode mudar.

Por Mariana Bertolucci

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