Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
No dia 14 de abril estreou o reality Caravana das Drags, a competição brasileira de artistas que performam a arte drag queen. Está disponível no catálogo do Prime Video e tem como apresentadores Xuxa e Ikaro Kadoshi.
Caravana das Drags não é o primeiro produto sobre a arte drag brasileira, mas pretende ser referência na questão de visibilidade, desmarginalização e valorização dessa cultura. Como disse Ikaro Kadoshi no vídeo promocional do reality, a cultura drag faz parte dos muitos grupos e segmentos de arte marginalizados no Brasil. Concordo com ele.
Embora hoje seja mais respeitada, a arte drag já foi sim muito marginalizada, repudiada e perseguida. Até mesmo pela própria comunidade LBGTQIA+ (ou comunidade “GLS”, como falávamos nos anos dois mil).
Eu, que fui um adolescente gay no final dos anos dois mil, lembro bem do universo drag restrito aos guetos daquela época.
Memórias que me trazem à mente alguns nomes da cena drag porto-alegrense. Charlene Voluntaire, Gloria Crystal, Maria Helena Castanha. Icônicas. E de uma época sem a profusão de referências que existe hoje, após o fenômeno do reality norte-americano RuPaul’s Drag Race. O que será que elas sentem e pensam sobre ter um programa como a Caravana das Drags hoje? Se sentem homenageadas?
Também recordei da Dandara Rangel, outra figura conhecida da cena LGBTQIA+ de Porto Alegre. Drag, atriz e comediante. Conhecida pelas imitações da cantora Alcione e pela atuação no espetáculo Bonecas à Beira de um Ataque de Risos, de 2004, que rendeu a ela o Troféu Açorianos de Melhor Ator Coadjuvante. Isso me fez pensar também o quão importante são as homenagens feitas em vida.
Rita Lee lutou contra um câncer de pulmão em 2021 e compartilhou a notícia de que estava curada em abril de 2022. Ela foi homenageada pelo programa Altas Horas no último sábado, dia 15. Assistiu de casa, ao lado do marido, Roberto de Carvalho.
Xuxa também recebeu uma homenagem especial no Altas Horas, dia 11 de março, em celebração ao seu aniversário de 60 anos. E Charlene Voluntaire, Gloria Crystal e Maria Helena Castanha testemunharam a arte drag ser honrada através da Caravana das Drags. A Dandara não. Dandara, que ganhou o Troféu Açorianos, faleceu em 2015, aos 51 anos, em decorrência de um câncer.
Recentemente, dois familiares meus foram diagnosticados com câncer.
Nossa vida também é uma caravana. Passa ligeira, apressada. E é a maneira como aproveitamos o trajeto que importa, não o destino. Pensei, de novo, sobre a importância das homenagens feitas em vida.
E sobre a importância de procurarmos, conversarmos e falarmos o que sentimos a quem amamos enquanto eles ainda estão aqui. Essas atitudes também são formas de homenagem. Que possamos lembrar disso. Antes que a caravana passe.
Esta semana, no podcast Bá que papo, falamos sobre a estreia da Caravana das Drags, sobre a homenagem para a musa Rita Lee e mais outros acontecimentos da semana
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio