Enquanto homem gay, sei bem como a existência de pessoas LGBTs quebra a lógica binária de feminilidade e masculinidade. De performance de gênero. Do que é ser homem e do que é ser mulher.
Na lógica do machismo, em uma suposta superioridade masculina, quanto mais o menino gay tem um comportamento próximo do que é considerado feminino, mais ele poderá ser discriminado. Enfim, machismo e homofobia andam lado a lado.
E, por questões diferentes, o feminismo também é uma luta antimachista, embora o feminismo não seja o meu lugar de fala.
Segundo esta reportagem de 2017 do Jornal Nexo, em geral, os pesquisadores apontam que as raízes do termo “lugar de fala”, estão no debate feminista americano, por volta dos anos 1980.
Para Pablo Ortellado, filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, o que se tornaria o termo “lugar de fala” aparece no artigo “O problema de falar pelos outros”, da filósofa panamenha Linda Alcoff, e no ensaio “Pode o subalterno falar?”, da professora indiana Gayatri Spivak. Esta informação também é da reportagem do Jornal Nexo.
A discussão possui muitas camadas. Mas não é difícil entender.
Todos nós temos diferentes percepções do mundo. E essas percepções baseiam-se em nossas experiências vividas. Logo, fica claro que pessoas de grupos socialmente oprimidos têm um discurso muito mais qualificado para falar de suas situações de opressão. Sobre LGBTfobia, pessoas LGBTs têm lugar de fala. Na luta antirracista, as pessoas pretas. E, no caso do feminismo, são as mulheres que detém a narrativa.
Isso não significa, porém, que é preciso pertencer a cada grupo para poder falar sobre cada questão. Eu, como homem, posso falar sobre feminismo. Na verdade, eu devo, desde que de uma forma autocrítica. Porque, assim como na luta contra o racismo não basta não ser racista – é preciso ser antirracista – a nós, homens, héteros e gays, não basta não ser machista. Precisamos nos tornar antimachistas.
Ser antimachista seria o mesmo que ser feminista? Não.
Enquanto homens, temos que assumir o compromisso de ser vigilante com as nossas atitudes e com a dos outros. Não apenas não reproduzir padrões de comportamentos inaceitáveis, mas também não normalizar e repreender esses padrões. Quando preciso for, alertar o amigo, o pai, o irmão, quem seja: “cara, tu tá sendo machista. Vamos conversar”.
Há uma discussão no campo do feminismo sobre ser possível ou não um homem ser feminsita. O debate é longo. Mas fico do lado dos que defendem que o termo feminista deva, sim, ser destinado somente às mulheres. Da minha parte aqui, posso dizer: odeio muito o machismo. Antimachista é o meu lugar de fala.
Nesta semana, na coluna Bá Experiência, precisei fazer este parênteses, pois o podcast Bá que Papo recebeu a roteirista e escritora Angélica Kalil, vencedora do prêmio Jabuti Juvenil pelo livro “Amigas que se encontram na história“, para falar sobre feminismo com a Mariana Bertolucci. Eu e meu marido, Rodrigo, participamos da conversa.
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Bá Experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio