Inspirado na canção do Los Hermanos: Cara estranho
Eu sou o legítimo Cara Estranho. Tenho dificuldade em achar lugar até mesmo no meu corpo terreno. Acredito que isso seja culpa de eu não acreditar em reencarnação ou qualquer dogma religioso. Sempre serei contra a corrupção mental perpetuada pela religião organizada. De fato, vivo de esbarrões e tropeços nessa vida, ignorando a real capacidade que tenho, a força que eu posso exercer. Aparentemente exponho meu coração, sem efetivamente deixar alguém chegar perto para desvendar aquilo que nem eu mesmo entendo. Nunca fui bom em trabalhos manuais e não sei até que ponto consegui construir a falsa imagem de um rapaz de bem. Sempre vivi nas margens, onde eu sou excluído por ser etiquetado como desviante. Apenas mais um estudo para o Baratta e a turma do labeling approach. Mesmo assim gosto muito de plateia e de aprovação externa. Afinal faz parte do meu show performar. Difícil escolher um caminho para seguir se não me for anteriormente sugerido. Já perdi a esperança de um dia me encontrar. Até porque quando estou próximo disso, minha atividade favorita é fugir da raia. Como não tive referência paterna o que me restou foi admirar os heróis da TV. E assim nunca me dei por conta de quanto doíam as porradas na vida real. Em tempo, verdade Fernando. De qualquer forma eu tenho a disfaçatez de dizer que a sociedade que me cerca só ve meu lado ruim. Como se eu demonstrasse algo digno de despertar sentimento diverso. Nunca tive estômago para competir. Que levassem meu pão que eu não ia brigar por ele. Faz tempo que eu fechei a mão pro que há de vir.
Rodrigo Ramos, jornalista e escritor
Escreve bem demais, esse cara.