Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Oi, Barbie. Oi, Ken.
Vocês, aí na Barbieland, não me conhecem. Na verdade, talvez com exceção da Barbie estranha, ninguém no universo das barbies e kens sabe quem somos nós. Descobri isso assistindo a um filme.
E quem somos nós? Somos as crianças que brincavam com vocês.
Digo “nós” para me referir às pessoas daqui, do mundo real. Não necessariamente isso me inclui. Honestamente, isso não me inclui, pois estou fora do grupo privilegiado que tem ou teve uma boneca sua. A propósito, poder brincar e ser criança nem é acessível a todos. Mas essa discussão deixo para outro momento, afinal, tenho ciência da dificuldade para uma Barbie entender o que são privilégios. Tão difícil quanto compreender o que é patriarcado.
Vamos direto ao ponto: eu não brinquei com vocês, não porque eu não quis ou não tive acesso. Eu não tive esse direito porque eu fui… um menino.
Aqui, na época da minha infância, quando quis me aproximar de qualquer Barbie e qualquer Ken, era considerado inapropriado para um menino tal comportamento, e até motivo de chacota em grande parte dos lares. No entanto, eu nunca deixei de olhar de longe, às vezes da porta do quarto da minha irmã mais velha, que, de tanto amor, zelava por todas as suas barbies e kens. E que, com o álibi do meu pai e da minha mãe, por eles enxergarem perigo se eu me aproximasse, não me deixava chegar perto.
Ao sair da sala de cinema, após assistir ao filme sobre vocês, me perguntei: por que tudo isso virou uma febre? Por que eu vim de camisa e short rosa, e por que eu quis tanto ver esse longa-metragem e tirar uma foto dentro da caixa da boneca mais famosa do mundo?
OK, há uma estimativa de que a Warner teria investido US$ 150 milhões para a promoção desse filme. Mas, como uma amiga disse em um podcast, muito da onda barbiecore que movimentou parte do globo aconteceu de forma orgânica, tamanho o calibre da sua presença no nosso imaginário. E, quando revisitei minha infância e comecei a escrever essa carta, entendi por que eu fui de camisa e short rosa, e por que eu quis tanto ver esse filme e tirar uma foto dentro da sua caixa.
Talvez tudo isso tenha sido o último respiro de uma aproximação que no passado eu quis muito ter feito e não consegui. Por não ter conseguido, infelizmente, ainda que você, Barbie estereotipada, viesse pra cá e me encontrasse, mesmo que me olhasse fundo nos olhos, muito provavelmente não me reconheceria. Mas saiba: eu sempre estive no quarto ao lado.
No podcast Bá que papo desta semana, não poderíamos fugir do tema do momento: Barbie. Para nos ajudar a fazer uma análise do filme, chamamos a publicitária, feminista e cinéfila Gabriela Beck.
Debatemos se o filme é para crianças e quais as reflexões importantes a obra traz. Buscamos essas respostas, inclusive, com o depoimento da Theodora Salami, de 10 anos, contando o que entendeu após assistir ao longa-metragem.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio