Malala Yousafzai tinha 17 anos quando ganhou seu Nobel da Paz.

A cantora Lorde tinha 17 anos quando ganhou dois GRAMMYs.

Eu tenho 25 e, bom, tinha 15 anos quando peguei meu primeiro gato — isso conta?


Cada dia mais, depois de examinar o próprio rosto no espelho e constatar  —  com alívio — que ainda tenho mais espinhas do que rugas, eu penso sobre o peso dos meus vinte e poucos. É claro que alguém que já viveu cinquenta, sessenta ou setenta pode me ver como uma doida, afinal, tenho tantos anos pela frente, não é mesmo?!

Bom, nem sempre.

Fui criada com um pessimismo dado por Deus e aperfeiçoado por anos de tragédias pessoais. Meu pai morreu quando tinha suas quarenta e poucas primaveras. Meu irmão, sem tanta sorte, se tornou parte do infame Grupo dos 27, junto com alguns outros seres humanos que sempre admirei, como Kurt Cobain, Jimmy Hendrix e Janis Joplin.

Fatalista como sou, a cada dia em que me aproximo dessa idade mais temo. Ora, o que vive uma pessoa em 27 voltas ao redor do Sol? O que eu deixaria para o mundo? Quem lembraria de mim quando, num domingo chuvoso, encontrasse minhas fotos antigas em uma caixa? Para mim, nascer e viver esse tempo tão limitado parece tão idiota quanto ir para Orlando e não visitar a Disney. E eu tenho certeza de que eu ainda não visitei a Disney da minha vida.

Tudo isso forma um grande turbilhão na minha mente e me impulsiona, todos os dias, 24/7. Levantar da cama, escovar os dentes, ir trabalhar, voltar para casa, dormir, fazer tudo de novo — mas é aí que eu me questiono: cadê o meu prêmio?

Sou daquela geração que ouvia as propagandas da Barbie me dizendo que eu podia ser o que eu quisesse: professora, bailarina, astronauta, modelo, cantora, atriz — tantas opções apareciam na minha frente, lado a lado com a pressão por ser especial. Todo mundo quer ser alguém especial. Todo mundo quer uma chance de ganhar seu próprio Nobel, Oscar, Esso, que seja. O fato é: não fomos feitos para ter uma vida medíocre. E, quando nos deparamos, aos vinte e poucos, com uma pilha de boletos para pagar e a louça suja do dia anterior ainda na pia, a rotina se torna frustrante.


A cada semana que passa, me contento um pouquinho mais com a mais frívola das atividades. Da mesma forma que me preocupo, dia após dia, com os terríveis 27 anos, convenço-me do fato de que não existe uma maneira de pular para a parte boa. Assim como meu irmão deixou sua Disney cedo demais, sem passar por algumas das montanhas russas mais divertidas ou conseguir uma foto com o Pateta, muita gente foi embora sem nem ao menos desfazer as malas da vinda.

Tenho certeza de que, se existisse um Nobel da faxina, da procrastinação e da preocupação desnecessária, eu teria ganho. Chupa essa, Malala!

Por Thais Montin.

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