Tenho um amigo que diz que sou movida por histórias trágicas. Cada vez que morre alguém famoso ou acontece algo ruim, ele lembra de me mandar a notícia pelo WhatsApp. Além da beleza e boas sensações, a expressão também vem da dor e das situações difíceis, que sempre inspiraram os criadores, os bons e os ruins. Basta lembrar tudo o que já lemos, assistimos, ouvimos e admiramos (ou não) nos últimos anos. Uma trança da miséria emocional em forma de arte e criatividade.
Então nos emocionamos, questionamos, sofremos, refletimos e somos capazes de reagir diante daquela identificação que nos faz parar e pensar: “opa, mas eu ando agindo igual a esse cara aí do filme, do livro, da música, da tela…”. Semblantes desesperados e anônimos como os das obras dos artistas nos museus. Sempre as pessoas. Sendo, criando e vivendo.
Para atingir e tocar as pessoas é preciso estar perto delas. E gostar disso. Quanto mais qualidade e boas energias colocarmos nessas trocas e mais generosos e abertos formos em relação aos seres humanos, melhor será a nossa vida, as nossas relações no trabalho e o nosso processo criativo. Para isso, é preciso respeitar o espaço, as particularidades e as opiniões alheias, saber também enxergar e ser capaz de sentir a dor do próximo. Já que absolutamente tudo começa e termina nas pessoas. São elas, suas histórias, conquistas e dores, que impactam talvez com uma força mais potente a criação e inspiram outras pessoas a viverem melhor.
Reproduzir experiências humanas e transformá-las em conteúdo é o que chamamos de comunicação. A primeira coisa que precisamos para estabelecer qualidade nessas relações, na área pessoal ou profissional, é entender que somos, enquanto humanos coabitantes do mesmo planeta, seres semelhantes. Espelhos idênticos de nós mesmos e dos outros. Nenhum de nós, nem os cachorros (que nem humanos são), gostam de ser humilhados. Não gostamos de ser enganados, nem de sofrer por amor ou pela falta dele. Não gostamos de ficar doentes e fracos. Não gostamos de sentir dor, nem que falem das pessoas das quais gostamos e também não queremos perdê-las, assim como também odiamos nos perder e todos tememos a morte – até aqueles que dizem que não…
Partindo desse princípio, nada mais motivador do que enxergar nos semelhantes e suas histórias, trágicas ou não, nossas sensações, dores e situações de vida. Quando o meu amigo diz que a dor e a tragédia me inspiram, na verdade, ele está querendo dizer que as nossas sensações em relação às dores e vivências alheias nos causam compaixão. Nos comovem. Nos movem. E um sentimento bem oposto da compaixão entre as pessoas, que infelizmente também é tão comum, é a inveja entre elas.
Só que a inveja não escolhe alvo e nem momento, tampouco exige intimidade e identificação. Brota feito um fogo alastrando-se dentro da gente (quem disser que nunca sentiu o lampejo de uma invejinha em algum momento da vida, não sei, não, hein… vai vendo). Ela é ligeira e traiçoeira, ao contrário da compaixão, que podemos e devemos ao longo da vida cultivar e estimular em nós e em quem nos cerca com atenção e docilidade. Como fazemos com os músculos na academia. Dia a dia, mês a mês. Errando, mudando. Fazendo direito, com consciência e concentração. Todo o dia de novo.
Quem cede em si, ao longo da vida, espaço para a inveja é porque não está fazendo o serviço direito da compaixão. É tanto antagonismo que até confunde. Quem inveja deseja estar no lugar do outro para usufruir de coisas e experimentar sensações distantes da sua realidade ou não. Quem age com compaixão se coloca no lugar do outro em situações também distantes da sua realidade, ou nem tão distantes assim. Então, quanto mais exercitamos a compaixão pelas pessoas, mais feliz e produtivos nos tornamos e menos inveja sentimos. Equilibre-se, seja e faça feliz.
Nunca pensei em explicar esses 2 sentimentos assim. Já senti inveja e me conforta saber que dá para confessar. Mas fiquei mais feliz por perceber que sinto muita compaixão e muito mais vezes compaixão que inveja .
Genial… Parabéns p/ texto lindo!!!