Já tenho um certo trauma familiar de ter contado para um sobrinho que Papai Noel não existia. Acho que não o prejudicou. Pelo contrário, ele é um cara centrado, gente boa, focado nos seus objetivos e corre atrás de tudo que quer. Não espera ninguém trazer nada para ele de presente.
Pois bem, depois dessa malvadeza com uma criança, estou apta a fazer outras piores.
Gostaria de contar para vocês que além do Papai Noel não existir, Natal é só um jantar animado, com todo mundo arrumadinho, comida boa e há uma troca de presentes. Agora ficou ainda mais fácil com a popularização do amigo-secreto. Tem dicas do presenteado, a gente dá algo que ele vai gostar e não precisa sair por aí a esmo quebrando a cabeça. Quem tem muita gente na sua lista, há também uma boa dica: é possível comprar com antecedência, durante o ano. Quando a gente se depara com algum objeto ou serviço que seja bem a cara de quem vai receber.
Então, dia 24 é só uma noite, geralmente, em família. Dá para aguentar até mesmo quando as relações são inflamáveis. Não há registros históricos que evidenciam que Jesus nasceu nessa data. O que se sabe de concreto é que nesse período se comemoravam as Saturnálias, festas consideradas pagãs pelos cristianismo, que celebravam as colheitas. E essas comemorações eram mais parecidas com o Carnaval pela balbúrdia.
Mais aliviados então?
Bom, então seguindo, outra boa nova: o Ano-Novo é só um ritual de passagem estabelecido no nosso calendário. Não precisa ficar feliz da vida, nem resolver todos os seus problemas, fazer mil promessas, não precisa comer uva e nem lentilha para ter prosperidade, estar em um lugar incrível para tirar fotos e mostrar no Instagram. Pode ser um lugar qualquer gostoso de ficar, tranquilo ou agitado, a gosto do freguês. Não precisa ser em grupo. Pode ser você com pessoas que você ame estar perto ou sozinho com seus cães ou gatos em um lugar com pouco barulho para eles, de preferência.
Nada vai mudar após a virada do ano. A menos que você se esforce para isso. Não há magia, há esforço para quem quer uma vida mais leve. E disso ninguém gosta de ouvir falar. Pior que isso, só textos longos e áudios do whatsapp com mais de cinco minutos. A maioria dos seres humanos quer apenas consumir aquilo que não dê trabalho, não exija muita reflexão. Somos míopes emocionalmente. Cavar mais fundo pode doer. Melhor ficar aqui na superfície cometendo os mesmos erros e comportamentos que dói menos. Será?
De qualquer forma, o que eu pretendia dizer é: não faça do final do ano seu inferno astral. Não deposite no mês de dezembro a conta de tudo que você não realizou durante os meses anteriores. Se 2024 não foi perfeito, foi o possível. Aceite. A intenção foi fazer o que consideramos o melhor.
Tudo mais é firula quando estamos em paz com quem somos no presente. E essa calma só vem quando a gente desacelera internamente, tira excessos e retém o necessário, aquilo que faz nosso olho brilhar. Portanto, convido a todos os heróicos que estão lendo esse texto até aqui a dizer não às convenções, ao viver como uma manada fazendo a mesma coreografia. Não é a decoração natalina que faz diferença, nem ter a guirlanda mais linda do andar do seu prédio.
A diferença está em dar uma trégua para si mesmo. Tentar apertar o botão do pause antes de sair por aí, cumprindo tarefas que não dão prazer, fazendo mil brindes com aquele sorrisão para as fotos só porque existe por convenção que é final de ano. Dia 1 de janeiro a vida normal segue. Mantenha essa certeza que a serenidade aparece para te visitar. Eu garanto!
Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram
Fico a observar as pessoas enlouquecidas em lojas e mercados, além de toda carga de estresse do ano ainda a insistir acumular um tanto mais nesse época. Chegam aos dias 24 e 31 de dezembro mesmo cansadas mas a estar preocupadas com o “outfit” para sair bem nas fotos e vídeos para as redes sociais. Por vezes esquecem de aproveitar os bons momentos sozinhos ou com aqueles que amam, momentos tão raros mas que essas datas nos proporcionam e que deveríamos realmente desfrutar!
Este texto é uma ótima reflexão e com certeza está a me representar.
Pura verdade ,como sempre. Bjsss
Adotei algumas dessas receitas há anos, agora com atestado conferido, vai ser melhor e mais tranquilo ainda. Abaixo a dezembrite!!
Brilhante Liege..
Ótima reflexão. A serenidade é a melhor conquista
Serenidade, paz consigo mesmo. Gosto de curtir estas datas em família, de acreditar no nascimento do Menino Jesus, de agradecer por tanto, tanto mesmo, pq aprendi a valorizar o que é realmente importante. Quanto ao texto e esta visão irônica e divertida das festividades de fim de ano, fantástico, provocativo e inteligente, como tudo que escreves. Bjs
Excelente reflexão! As pessoas estão a andar estressadas as voltas com compras e “outfits” para saírem bem nas fotos e vídeos para estar a postar nas redes sociais mas estão a esquecer de aproveitar a oportunidade de momentos de paz e alegria, sozinhos ou com a família, que estas datas proporcionam.
Amei o texto!
Perfeita reflexão, em cada palavra uma verdade!
Concordo com você. E mais: como dói a comparação entre os presentes obrigatórios. Natal é o triste momento de exposição das diferenças econômicas dentro das famílias.
Muito bom. Paz de espírito é o que precisamos.
Gostei muito Liége! Bem verdade tudo que escreveste!
Principalmente sobre o Natal, acontece de tudo menos lembrar do aniversariante que nasceu, independente do mês ou ano!
Muito bem elucidado, manter a serenidade em dezembro é um exercício que devemos praticar .
Excelente, Lili! Tem que ter muita maduridade para perceber tudo isso!!