Não sei qual é a origem da expressão “alugou um triplex na minha cabeça”. Uns dizem ser uma gíria importada do inglês. Outros atribuem ao processo do triplex no Guarujá contra o presidente Lula.
Até a Netflix Brasil resolveu investigar e publicou no X/Twitter, em 2021: “alugou um triplex na cabeça” surgiu após o primeiro ser humano assistir ao documentário Três Estranhos Idênticos, dos adolescentes que se conhecem por acaso e descobrem serem trigêmeos separados no nascimento. “Estudos apontam que cada andar do triplex é ocupado pela história de um dos irmãos”.
Claro que essa postagem da Netflix é zoeira. Ou não? Agora eu plantei um triplex na minha mente.
A verdadeira origem deve ser o triplex no Guarujá, mas seja lá de onde tenha vindo, a frase “alugar um triplex na cabeça” significa popularmente fantasiar situações que não condizem com a realidade, às vezes porque alguém ou alguma situação nos afetou psicologicamente. E qual emoção representa isso? A ansiedade.
De acordo com esta publicação do Ministério da Saúde, a ansiedade é uma reação emocional importante e funcional, pois alerta o corpo e a mente em momentos de perigo. No entanto, quando manifestada de modo exagerado e persistente, pode se tornar um transtorno. E ela, a ansiedade, é a emoção protagonista de Divertida Mente 2, a animação da Pixar sobre Riley, uma adolesente descobrindo novas emoções.
Não farei uma análise psicológica, pois não sou profissional da área. Mas interpreto Divertida Mente (tanto o 1 quanto o 2) como uma metáfora sobre o significado que as emoções trazem às nossas experiências, despertam motivação para tomarmos certas atitudes e influenciam tomadas de decisão — além de terem um papel fundamental na consolidação das memórias. E, conforme o tempo passa, temos de aprender a lidar com novas e mais complexas emoções. De novo: não uma análise psicológica profissional. Esse é o meu entendimento de expectador. E a minha interpretação a partir da minha experiência.
No filme a Ansiedade projeto diferentes cenários imagéticos, de coisas que poderão acontecer como consequências se fizermos isso, não fizermos aquilo; se algo der errado, ou até mesmo se der certo. Que às vezes nos tira o sono, nos catapulta para pequenos surtos ou, ao contrário, nos paralisa. Quem já vivenciou essa mini Tatá Werneck falando várias probabilidades de forma acelerada dentro da caixola sabe do que estou falando. Essa é a emoção que rouba a cena dentro da minha cabeça, por isso costumo ter mais de um triplex alugado na cabeça.
Relacionei minhas crises de ansiedade com a Tatá porque é ela quem dubla essa emoção na versão brasileira, e vale uma menção honrosa para a interpretação genial.
Divertida Mente 2 é legal. Porém, como disse Isabela Boscov, não tem aquele ineditismo tão encantador em Divertida Mente 1 — que inclusive venceu o Oscar de melhor animação em 2016. De qualquer forma, tive bastante empatia pela Riley, afinal, a Ansiedade também faz bagunça aqui nas minhas ideias. Contudo, graças à incrível interpretação da Tatá Werneck, sempre que a Ansiedade tomar conta da sala de controle em minha mente, lembrarei da Tatá em vez da Riley. E trocarei a expressão “estou com um triplex alugado na cabeça” para “estou com a Tatá Werneck alugada na cabeça”.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, convidamos nosso amigo Rafa Colombini, do Instagram @pop.cout, para comentar o filme de animação Divertida Mente 2. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio