A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Sempre gostei dessa frase do Vinícius de Moraes. Acredito muito que um dos maiores desafios do ser humano está em se relacionar. Vejo isso todos os dias e experimento a densidade dos grupos de whatsapp. Atualmente, mais ainda, pois somos seres analógicos vivendo em um universo virtual. Metaverso versus olho no olho. O que você prefere? Possivelmente a resposta está atrelada às suas últimas experiências.

Um livro que sempre recomendo chamado A Dança lembra que bailar sozinho é bem mais fácil, pois só contamos com o nosso ritmo ou a falta dele. Dançar com o outro já depende de uma sintonia, mas é bem mais gratificante criar movimentos com outra ou outras pessoas, seja nas relações afetivas ou em ações que envolvem projetos e no trabalho. É nesse momento que nos colocamos à prova e nos deparamos com nossas limitações. Sempre o desafio é maior e, em algum momento, nos deixamos conduzir, nos perdemos, corremos riscos, tropeçamos quando queremos ir rápido demais. Se tivermos êxito poderemos até renunciar a certezas absolutas já bem caquéticas que temos e que não nos ajudam a construir absolutamente nada de proveitoso.

Ouço também muitas queixas de quem me procura para as terapias complementares que faço. As frases giram em torno de variações do tipo: “o mercado amoroso está complicado”, “é difícil”, “ninguém quer se comprometer”, “ela quer mandar na minha vida”.

Há anos li em uma matéria desta época de Dia dos Namorados a história de uma detenta que encontrou um namorado depois de estar atrás das grades. Mesmo atrás de uma grade, fazia “zóinho” pro moço (como dizia minha mãe) do outro lado da rua e o fisgou. Como terminou não sei, mas essa é uma daquelas pessoas que poderia dar uma palestra motivacional para quem acha tudo difícil. Esse é um ser que derruba barreiras e merece meu respeito.

Uma amiga começou a namorar enquanto enfrentava um câncer. O que provoca a queda da teoria de que os homens dão no pé quando a parceira fica doente. Há pessoas e pessoas. Existem aquelas que estão ali, na saúde e na doença. São aquelas que conseguem identificar quando encontram alguém que vai fazer diferença na sua vida. E se jogam. E a dança do casal flui. Talvez não seja eterno, mas o encontro se fez. E um provoca no outro a vontade de dar um passo à frente e dizer: sim! Quero viver isso!

Uma vez fiz uma matéria para o Caderno Donna da ZH sobre casais que tinham se conhecido da maneira mais insólita possível. Um dos cases havia se encontrado em uma fila de check in no aeroporto. Ela com uma mala a mais, se virou para trás e encontrou o seu príncipe? Não, com uma pessoa que carregava apenas uma mochila. Não teve dúvida, falou com ele, viu que tinham o mesmo destino e pediu que ele despachasse sua bagagem extra. Esse foi o início de uma relação que rendeu casamento, dois filhos e muitas histórias.

Outro casal tinha se esbarrado em uma festa. Sem querer, ela deu um tapa nele e ele revidou a convidando para tomar um espumante. A partir daí houve muitos brindes até ele falecer há pouco tempo. O terceiro case era um viúvo que estava em casa, triste. Amigos o convidaram para uma viagem internacional. Recusou primeiro e depois voltou atrás e foi. Andando pelas ruas movimentadas de Roma se perdeu do grupo. Parou em uma sinaleira e arranhou uma frase em inglês mesclada a um italiano da Serra Gaúcha para tentar se localizar. A mulher a quem ele se dirigiu respondeu em português. Pode isso? Sim, pode! Tanto que aconteceu. Que isso quer dizer? Alguns diriam: esse tem sorte no amor. Eu diria que isso foi resultado simplesmente dele ter aceitado o convite e embarcado nessa viagem.

Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

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