Vocês já passaram por um momento de desespero? Ou medo? Aquele medo que paralisa, sabe? Eu passei. Travei. Foi graças a uma dica, conselho – ou o que seja – de uma amiga que saí da paralisação. A pessoa que fez isso? Talvez vocês conheçam: Mariana Bertolucci. Dividi com ela uma dor bem intensa que estava me gerando medo e me travando. Ela me disse: “escreve, Flavinha; escrever cura”.
A partir dessa mensagem – que tenho até hoje em meu whatsapp – o medo deu lugar a uma mente fervilhando. Quem escreve sabe que a mão não acompanha a cabeça. Então, deixei a cabeça ferver e maturar. No dia seguinte, sentei, respirei e escrevi. Foi uma catarse. Palavras e choro compulsivos. Dor e cura. Alívio e revivências dolorosas. Ao fim, o sentimento que prevaleceu: a Mari tinha toda razão.
O que escrevi naquele dia, hoje foi publicado pelo portal Coletiva.net. Uma publicação corajosa. Digo isso porque grandes veículos receberam o assunto (seja como pauta ou artigo), foram solidários… mas. No fim o MAS prevaleceu. É um relato pessoal demais.
Me digam: como falar de um assédio sexual sem fazer ser pessoal? Enfim, o texto está publicado aqui e convido à leitura para depois de terminarem esse.
Daquela catarse da escrita, senti que precisava ir além. Ao relatar a dor e a humilhação de um assédio sexual, muitas mulheres me contaram suas histórias. Sempre com medo, dor, culpa. Dividiram comigo porque escrevi, assumi e escancarei a dor. “Essas mulheres precisam de um lugar de acolhimento das suas dores e raiva e medo e angústia…”, eu pensei.
Disso, surgiu o ASSÉDIO NÃO É CANTADA (https://assedionaoecantada.com.br/). Um espaço virtual onde me proponho a ouvir e divulgar histórias reais, de pessoas reais. A escrita me salvou desse mundo escuro e sombrio. A escrita pode, então, fazer o mesmo com tanta gente!
Se eu puder transformar a minha dor em algo útil, que bom! Não faz valer a pena ter passado isso, claro. Mas ameniza.
Me dizem que sou corajosa. Sim! Sou corajosa e fui vítima! Não tenho medo de dizer isso, porque fui. Mas escolhi, desse episódio, escolher a coragem à raiva. Meu assediador tem uma filha. E desejo que ela JAMAIS passe por isso e, quem sabe, ensine seu pai a jamais repetir essa prática. A coragem que tive, por fim, sei que mora dentro do coração de todas as vítimas desse crime nojento praticado com tanta frequência e punido tão pouco.
Por Flávia Moreira, jornalista