Há aproximadamente 50 anos, Herbet Freudenberger, de São Francisco, e logo depois Cristina Maslach, da Universidade de Berkeley, psiquiatra e psicóloga, muito contribuíram para realçar o estudo e o reconhecimento da Síndrome de Esgotamento Profissional: um distúrbio psicológico determinando queda no desempenho laborativo, sensação de incapacidade ou impotência para alcançar objetivos, frustrações, até o esgotamento emocional. Todo esse quadro podendo associar-se a outros desajustes mentais, intimamente relacionados ao trabalho.
A repercussão psicológica negativa de uma rotina de trabalho realizada sob condições determinantes de desgaste excessivo, pode levar ao esgotamento emocional. Este é o eixo do que se denominou Síndrome de Burnout (numa tradução simples, “queimar-se”). A todos interessa e tem sido robusta matéria para estudo as constantes transformações ocorridas nas relações do indivíduo com o seu trabalho e com seus pares. Assim como no contexto causal, o entendimento dos detalhes de cada item das situações e dos sintomas que o compõe. Também, quais as áreas profissionais e perfil individual estariam sob maior risco de exposição à síndrome, atualmente já considerado uma doença.
A soma de estudos e observações convergem numa direção: o Burnout é um problema grave, cada vez mais atual, tal como comprovam estudos em certas profissões e seus trabalhadores. Acessando o sistema de pesquisa “PubMed”, responde com mais de 13 mil textos. Solicitando “Burnout” no “Google”, obtém-se aproximadamente 50 milhões de resultados (!). Genericamente, a insatisfação e o cansaço relacionam-se com sintomatologia de observação frequente no ambiente de trabalho: condições de desconforto profissional crescente determinam perda de interesse, irritabilidade, ansiedade, absenteísmo, e até o abandono do serviço. Neste mesmo corredor o estresse prolifera, se acumula e impõe suas marcas. Com o tempo, casado, comparecem sinais de depressão. A ordem pode não ser exatamente esta, mas não há dúvida que estresse, ansiedade, Burnout e depressão podem correr parelhos, depois se associam comprometendo o relacionamento pessoal, a qualidade do desempenho, a saúde mental.
Já há algum tempo tem-se um entendimento unânime: o Burnout é ainda mais nocivo quando compromete atividades de significado maior num trabalho desempenhando. As marcas dos sintomas que determina incluem, de maneira geral, a produção de um trabalho de qualidade sub-ótima (do inglês “sub-optimal”), com nexo há algo “deficiente”.
Inúmeros estudos definiram a sequência de graus de comprometimento da saúde mental que ocorrem nos trabalhadores submetidos a desgastes excessivos e continuados:
* Progressiva perda de energia no trabalho
* Perda de interesse e de envolvimento no trabalho (comprometimentos das habilidades para o desempenho das tarefas)
* Despersonalização, ou seja, distanciamento mental e emocional de pessoas e circunstâncias. O ser humano na sua frente passa a ser um objeto.
* Esgotamento emocional grave.
A continuidade do trabalho em situações adversas, com manutenção dos estressores, sobrecarga de horas trabalhadas, conflitos de “staff”, falta de recursos, agravam todo esse quadro de precariedades, gravemente compromete o trabalho desempenhado, comprovadamente compromete a saúde geral.
A quantidade expressiva de publicações comprova que certas profissões e seus trabalhadores são vítimas mais frequentes de se tornarem expostas ao Burnout e suas graves consequências: médicos e enfermeiros, professores, profissionais da aeronáutica, pilotos e comissários, bombeiros, policiais, bancários, entre várias outras categorias profissionais.
Por Telmo Tonetto Reis, médico neurologista e escritor