Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Indústria cultural — termo cunhado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895–1973) —, de forma resumida e simplista, refere-se ao consumo de tudo que é produzido para atingir a massa popular.
Em introdução à sociologia da música, Adorno fala sobre o ouvinte do entretenimento extremo, para quem o consumo apenas distrai, em atitude descompromissada com o pensamento crítico e distante da reflexão.
Acima, uma amostra rasa de um referencial teórico profundo, com o qual tive contato durante a graduação em jornalismo. Que me lembra um assunto trazido exaustivamente na coluna Bá experiência: qual é o papel da arte?
Provocar. Dar espaço para refletir. Fazer pensar. Acabar com a paz, como diria Madonna. Porém, nunca, jamais, de forma alguma, o objetivo da arte é agradar. Sempre que uma obra é incompreendida, e por isso atacada, lembro da teoria da indústria cultural, da introdução à sociologia da música e de Fernanda Young. Afinal, quer coisa mais cafona do que atacar a arte?
“A cafonice detesta a arte, pois não quer ter que entender nada. Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias.” Um fragmento do último texto de Fernanda Young, em sua coluna nas páginas de Opinião em O Globo, antes de morrer.
Fernanda era muitas. Escritora, roteirista, atriz, apresentadora, diretora, autora, desenhista, poeta. Um ser político e, claro, artístico. Se a arte é disruptiva, controversa, provocante, confusa, esquisita, inspiradora e explosiva, como eu acredito que é, seria possível lembrar de Fernanda Young sem lembrar da arte?
Já ouvi fãs de Madonna — tal como era Fernanda, a ponto de batizar uma das filhas de Cecília Madonna e declarar que rezava pela rainha do pop todas as noites — dizerem: “o que Madonna pensaria disso” ao avaliar uma situação. Hoje, quatro anos após sua morte, eu me questiono, diante de várias questões: “o que Fernanda Young pensaria disso?”
Recentemente, Luíza Sonza lançou um clipe experimental chamado Campo de Morango, no qual dança sobre lençóis brancos que remetem à sangue. E provocou uma onda de críticas por despertar gatilhos e sensações desagradáveis. Mas de novo: ainda que inserida na indústria cultural, a música pop, quando se distancia da lógica mercadológica para despertar sensações, interpretações e reflexões, não está se propondo a exercer o papel da arte?
O que Fernanda Young pensaria disso? Estaríamos, ainda, cafonas?
No podcast Bá que papo desta semana, falamos sobre Fernanda Young. Lançado um dia antes do seu quarto aniversário de morte, comentamos sua vida, carreira, relevância cultural e legado eterno. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio