Foto: Heloisa Medeiros
Sempre achei maluco/lunático/cósmico esse papo de a energia vital vir das forças naturais. Do eclipse solar, lunar ou de profundos e afetivos abraços sem fim em troncos de árvores. Ao estilo exótico do ex-roqueiro Serguei, hoje com 85 anos. Em seu psicodélico currículo, coleciona peripécias como uma noite de sexo com Janis Joplin e festinhas animadas com Jimmy Hendrix e Jim Morrison.
Não há dúvida de que estar perto da natureza é uma delícia e provoca uma boa vibração em nossas vidas: desfrutar da sombra das árvores, da energia do sol, do frescor das águas, do ar puro sem poluição. Me soava exagerada a necessidade visceral de estar em contato com a natureza que algumas pessoas têm. Não soa mais.
Além da óbvia sensação de conforto que sentimos pisando descalços na areia do mar, ao invés de apertarmos os dedos em sapatos de bico fino, hoje sinto que podemos, sim, de fato, vivenciar uma eficaz troca de energia entre pessoas, animais e elementos da natureza, com benefícios para nossa saúde mental e física. O universo conspira a nosso favor se prestamos atenção nele. Com amorosidade e humildade, capazes de perceber essa transformadora grandeza que é o todo perto de cada uma das nossas vidas.
Ampliei os sentidos para a potência do todo. Do cosmos mesmo. Faz sentido que as sensações de liberdade, sossego, movimento, intensidade, fluidez, poder, amplitude e de força vindas da natureza nos empoderem como seres humanos e nos inspirem a conviver em mais harmonia. Se somos pertencentes a essa aura mágica e perfeita, por que não reverberarmos em nossas ações toda essa explosão energética para o mundo se tornar um lugar melhor de se viver?
Então direto do cosmos, passando pelos meus pensamentos e aterrissando na minha nem tão pacata vidinha, eu saía da garagem do meu prédio quando fui surpreendida por um carro que trancava o acesso à rua. Era branco e exibia letras grandes na lateral, com o nome de alguma cidadezinha do interior. Cerro Largo ou Cerro Grande. Não importa. Estava pronta para enfiar a mão com toda a minha energia nervosinha em um buzinaço, quando vi se aproximar da minha janela uma mulher, mais ou menos da minha idade ou mais moça, com uma menina que deveria ter mais ou menos a idade da minha filha (13 ou 14 anos) no colo. Ela parecia ser especial e tinha também limitações motoras. Provavelmente viajara dessa cidade em um carro da prefeitura para fazer algum tratamento que só deveria ter na capital. Enquanto as duas passavam na minha frente em direção ao carro, desenhei toda a história delas em segundos na minha cabeça, e uma desesperada emoção me invadiu e freou minha mão em direção à buzina. Meus olhos viraram água e meu peito apertou repleto de uma dolorida compaixão. Assim foi até chegar no trabalho.
Horas depois, vendo a repercussão do depoimento do Fábio Assunção sobre a sua dependência química, que é o problema de uma imensidão inimaginável de pessoas, voltei a me emocionar. O ator autorizou músicos a usarem seu nome em uma música, aliás, de péssima qualidade, que está estourada nas paradas. A renda da execução da música vai ajudar pessoas em recuperação.
Muito além do refrão sofrível, o que vai perdurar é a verdade e a coragem do ator que escancarou a própria ferida para atingir e ajudar com seu exemplo de aceitação milhões de pessoas, que como ele, sofrem e lutam contra seus vícios e compulsões. Sem entender e reconhecer nossas fraquezas não conseguimos vencê-las. Cada soldado tem batalhas diferentes. A guerra é de todos.
As pessoas não são como as plantas e orquídeas que tenho há anos na minha área de serviço. Eu rego e podo os galhinhos secos e retorcidos que já não têm mais forças para suportar folhas verdes e flores coloridas. É lindo também aparar as pontas e cuidar das plantas (ontem mesmo fiz isso e adoro), mas aparar as nossas arestas íntimas constantemente é bem mais desafiador e bonito. Por isso as vidas das pessoas devem nos emocionar e influenciar mais nossas atitudes do que assistir um deslumbrante e colorido pôr-do-sol.
Não adianta beijar o cachorrinho na boca, fazer tudo pelos ursos em extinção do Himalaia e defender raivosamente os animais nas redes sociais (que merecem toda a nossa defesa e atenção mesmo), se você não consegue ser gentil ou sorrir para aquele vizinho solitário e melancólico, com o qual você divide o elevador todos os dias. Praticar Yoga ou meditação com pedras e óleos indianos não fará de você uma pessoa melhor se lhe falta paciência para escutar por dez minutos a voz da sua mãe, ou brincar e conversar com os seus filhos. Tampouco fará algum sentido você acampar na floresta ao som lírico dos pássaros ou escalar montanhas de caminhos espirituais praticando autoconhecimento e superação, se a primeira coisa que você vai fazer quando retornar da aventura mística é ser grosseiro com as pessoas que estão perto de você: a(o) namorada(o) ou o porteiro(a) do prédio. A conexão com a natureza tem que alimentar a conexão entre as pessoas e não afastá-las.
Seja complacente com a dor e a luta do próximo. Somos todos galhos da mesma imensa e frutífera árvore, e compartilhar nossas dores, flores e frutos é o que nos deixa cada vez mais fortes e enraizados. Já abraçou sua árvore hoje?
P.S.: abraçar uma árvore para sentir-se melhor é a base da silvoterapia. A silvoterapia foi reconhecida em 1927, mas já era usada há séculos. Respirar ar puro é benéfico. Ativa a circulação sanguínea, aumenta o número de células vermelhas do sangue, ajuda pessoas com asma, bronquite crônica, hipertensão arterial, nervosismo e insônia. Retarda o envelhecimento. O limoeiro, pinheiro, carvalho, castanheiro e salgueiro são capazes de nos trazer mais energia vital e positiva.
Sempre bom ler o q tu escreve! Talvez por te conhecer, parece que estou te vendo falar! E isso é muito bom!
adorei o texto, as pessoas precisam ter mas empatia pelo próximo ,seja humano ,animal ou vegetal precisamoss melhorar como humanos , Alias os unico de destroem o nosso hábitat.
Amei! Como sempre!