Um pensamento já dito à exaustão, que não me importo em repetir: piada é quando todos riem. Se machuca alguém, não é piada.
Muitos pensarão, ao me ler, lá vem o mimizento, o “politicamente correto”.
Desafio, porém, alguma mulher que já tenha sido vítima de violência sexual a rir com o professor universitário Fábio Melo de Azambuja, do curso de Direito da PUCRS. Durante uma aula de Direito Empresarial, em 2015, ele pediu licença para contar uma “piada”. “As leis são como as mulheres, foram feitas para serem violadas.”
Desafio uma mulher obesa que namora um homem magro a achar graça se eu postar uma foto dela com a legenda “Tudo bem ser maior que o seu parceiro”. Essa “piada” foi feita pelo “humorista” Leo Lins, em 2020.
Desafio uma pessoa negra a rir com a “piada” do produtor de conteúdo digital Bora Bill, no podcast Inteligência Limitada, em 2022. “Eu trabalhava em um restaurante que, um dia, chegou um senhor lá e falou assim: ‘Ei, Ceará, vem cá’. Aí, eu fui servir ele. Aí, ele falou assim: ‘Tu sabe por que não existe flor preta?’ Aí eu fiquei moscando, rodando. ‘’Não, por quê?’ ‘Porque preto não é flor que se cheire’”.
Desafio um homem gay a se divertir com o vídeo do “humorista” Nego Di, de 2023, no qual faz “piada” sobre a foto em que João Guilherme, filho do cantor Leonardo, veste um cropped. “Precisa de toda essa alegoria, de toda essa perfumaria pra dar o rabo? É isso que o cara busca quando usa esse tipo de roupa. O cara quando usa esse tipo de look tá andando com uma placa atrás dizendo enfie”.
Na verdade, desafio nada. Ninguém.
Se eu tivesse fé no bom senso das pessoas, afirmaria que você não encontrou graça nas “piadas” que eu trouxe. Contudo, não tenho essa certeza. O professor universitário foi defendido por parte de seus alunos e alunas. Os “humoristas” citados seguem fazendo sucesso. O produtor de conteúdo digital permanece com 734 mil seguidores no Instagram, alguns dos quais, possivelmente, mulheres, pessoas negras e integrantes da sigla LGBTQIA+.
Gosto do Fábio Porchat. Especialmente do seu programa “Que História é Essa, Porchat?”. Talvez por isso passei pano e julguei como exagero a enxurrada de críticas que ele recebeu ao ironizar o vídeo da mulher com o tio morto, em uma cadeira de rodas, tentando pedir empréstimo no banco.
Entretanto, se alguém se ofendeu, não é piada. Não foi assim, afinal, que abri este texto? Não pensei inicialmente desta forma sobre o caso do Porchat, mas acabei entendendo, na prática, quem o criticou.
No dia anterior ao que escrevo este texto, minha avó materna, de 80 anos, se sentiu mal e foi levada ao hospital. Diagnóstico: dengue. Fui até lá. Ela ficou tão debilitada que precisou ser colocada em uma cadeira de rodas, pois não conseguia caminhar. E adivinhe do que eu lembrei? Não preciso explicar, você entendeu. O problema não é fazer piada. Desde que seja piada. Que não ofenda. Faça piada, só que do jeito certo. Com humor e com amor.
Adendo 1: desculpem pela violência das “piadas” trazidas como exemplo.
Adendo 2: minha vó já está em casa e se recuperando bem. Não deixem água parada em casa.
Adendo 3: eu ainda gosto do Porchat, embora ele precise lidar melhor com as críticas.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Nesta semana, no podcast Bá que papo, falamos sobre o caso de Fábio Porchat, que recebeu críticas após ironizar o caso do “tio Paulo”; comentamos as acusações que a cantora Ludmilla recebeu após suposta intolerância religiosa; trouxemos as novidade do show da Madonna no Rio de Janeiro; e opinamos sobre alguns outros acontecimentos dos últimos dias.
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