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Há dois meses sem aparecer aqui para dividir com vocês as minhas palavras, percebo que passei boa parte desse tempo mais atenta à minha intuição.

A feminina, de tão potente e avassaladora (somos, em geral, mais sensíveis e reflexivas) já virou clichê e argumento para acabar com namoro e casamento.

Jamais esqueço do dia em que desci atrasada do carro da minha mãe no colégio. Eu e o Cris adorávamos quando ela nos dava dinheiro para merenda no Bar do Silvio. O Silvio era o motorista e dono do ônibus do colégio e também do bar do Maria Imaculada.

Despenquei do banco da frente e pus o troco do lanche no bolso de trás da calça enquanto ouvi a voz da minha mãe se esvaindo no ar que aumentava entre nós (sou capaz de ouvir esse grito até hoje e em cada vez que faço o mesmo com a Antônia e ela O-D-E-I-A): “Tu vais perder esse dinheiro no bolso Marianaaaaa!!!!”. 

No recreio, quando coloquei a mão no bolso para pagar o prensado, entendi a força que tem a intuição e a observação. Desde então, cada vez que a minha mãe profetiza certeira algo que ela desconfia ou palpita (e ela é bem opinativa sobre a vida dos três filhos), eu repito: “Não roga praga! Vira essa boca para lá!”. Somente mãe entendi que só as muito ruins e/ou doentes conseguem realmente desejar o mal dos próprios filhos.

Intuir é o ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, ações e a consequência delas, independentemente de raciocínio ou de análise. Apenas pelo instinto: seja ele materno, feminino, humano. Atento, alerta, sensível. Não à toa, os hindus creem no terceiro olho, também conhecido como Ajna Chakra, o sexto chakra, que fica no ponto entre as sobrancelhas. Na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, sai de baixo!

O problema é que diante de tantas pessoas e olhares sensíveis, com afetuosos, preventivos ou invejosos sextos sentidos e intuições sobre a vida alheia, perceber nossas próprias obviedades, impossibilidades e limites, quase sempre é tarefa árdua. O mesmo tempo que perdemos pensando, intuindo, achando ou palpitando, gostando ou não da vida dos outros (porque é bem mais divertido e um milhão de vezes mais fácil) é aquele que deixamos de espiar com zelo e adentrar no que verdadeiramente importa: nosso íntimo. E o que pretendemos e fazemos todos os dias, desde a hora em que acordamos até a hora de dormirmos, para deixarmos mais leve, produtiva, honrosa e divertida a nossa curta existência por aqui.

Quem diria, por exemplo, que eu, toda metida a canceriana intuitiva e sensível, prestes a completar 10 anos livre do tabagismo, poderia ter a genial intuição de me presentear no último mês do ano passado com algumas fumadinhas… Isso não é intuição. É burrice. Ok, passou e já parei de novo, mas sem necessidade alguma, me vejo recomeçando a caminhada de anos atrás do mesmo ponto, lutando de novo, mais frágil e vulnerável, contra um vício que eu já sei o quanto é duro de vencer. 

Quem nunca sentiu um clima ou energia pesada vindo de um “amigo”, chefe ou colega de trabalho? Isso não é intuição. É experiência e atenção. Você já se pegou imaginando como seria reencontrar aquela pessoa que marcou um momento da sua vida no passado? E quando reencontrou foi mesmo uma delícia. Isso não é intuição, é memória. Quem nunca quase morreu de tristeza por não entender o final de um relacionamento que parecia eterno, para acordar um belo dia e perceber como “pirlimpimpim” que, obviamente, (siiim, sua dramática e melancólica…) nada é para sempre e que está tudo certo e bem explicado dentro de você. Isso não é intuição, é a vida mesmo.

Hoje, vivendo e sentindo essa primeira semana do ano pós-verão, intuo que não vai ser mole o tal de 2020, mas para quem focar na sua verdade, coisas boas vão acontecer (Mariana Yonara…) Que mais? A Regina Duarte (que tem toda a minha torcida, diga-se de passagem) não vai durar até o final do governo à frente da cultura brasileira. O Gre-Nal vai ser emocionante e o Corona Vírus vai aliviar até a chegada do nosso inverno. 

Brincadeiras à parte, preste mais atenção na sua intuição. Má ou boa, é ela que nos coloca na direção certa, nesse movimento maravilhoso, surpreendente e difícil que estar vivo.

Por Mariana Bertolucci

  1. Elizabeth Dallagnol Kalil says:

    Pois não é que te gostei, mais uma vez?
    Intuição, quando bem observada, nos leva a muitas magias!!!
    Sinto-as cada vez mais frequentes…. penso que é a idade avançada, pois nos proporcionou muitas experiências, boas ou ruins. Não importa!
    Beijinhos amada!!!!

  2. Thaïs Bezerra says:

    Mari prima amada suas crônicas são maravilhosas. Avante! E esta sobre a intuição, ativou a minha memória afetiva sobre mãinha Juju – que amava o mano Ataliba, seu saudoso avô e meu tio inesquecível, que tinha forte intuição e era espiritualizada. São sinais do universo! Vamos estar mais atentas às nossas intuições… Bjoka com afeto e admiração! TB

  3. Alice says:

    Mari , já notasse que as vezes deixamos pra lá e continuamos fazer o que estávamos fazendo…. de repente voltamos pra pegar a dica …. beijos ‘ amei o texto!

  4. Luiz Inacio Franco De Medeiros says:

    A simplicidade de linguagem e sua força do texto fazem com que todos , velhos como eu inclusive, a leiam tocados e nos anima a escrever uma frase. Parabéns Mariana.

  5. Ana Laurent says:

    Mari ! Amo ler o que escreves . . . fico leve !!!! Tua mãe sempre achei intuitiva . . . ela vai fundo , conversar com ela me faz muito bem !!!! Beijos

  6. DANIELA FERREIRA DIEHL says:

    Amei de novo mari e suas palavras doces entraram em mim como se fosse para eu mesma.Intuicao é algo forte e sabio.Qtas vezes me sentei no sofa da sala toda arrumada e maquiada e desisti da programação.
    Algo em meu intimo dizia e repetia …
    Não vai Daniela
    Qdo não ouvia essa voz que vem de dentro era batata que algo ruim acontecia e no dia seguinte me culpava
    Vc é gigante de coração e com suas palavras.
    Alem de uma amiga que admiro e amo muito

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