Comecei este texto e desisti dele mil vezes. Não vejo como minha opinião pode ser relevante diante de um episódio que, apesar de pessoal, se tornou público porque diz respeito a figuras públicas. Iza foi traída. Revelou isso em suas redes sociais. O tema gerou uma hecatombe no mundo digital. E quanto mais coisas eu lia, mas acreditava que meu silêncio era a melhor escolha. Até me deparar com duas situações que não busquei – porque não vasculho no esgoto que se tornou a internet -, mas chegaram em meu celular. E foi brutal ver esses dois aproveitamentos da dor profunda de uma mulher grávida que descobriu uma traição e a expôs publicamente antes que outros o fizessem.
Primeira coisa que me choca: como alguém trai a IZA??? Essa era a pergunta mais recorrente. Quem trai, trai qualquer uma. Quem trai, trai Iza, Shakira, Sandra Bullock, eu, você e qualquer outra pessoa. A traição não é sobre quem foi traído, mas sobre quem traiu. Ao perguntar quem consegue trair uma mulher como a IZA, as pessoas passam a ideia de que se fosse uma pessoa qualquer, seria ok. Não é.
Mas tudo bem… quando acontece com alguém famoso e potente, que a sociedade coloca num pedestal, é compreensível isso. O que não é compreensível, muito menos aceitável – por isso rompo o silêncio – é a imprensa – aquela que combate fake News e se coloca como ética acima de tudo – criar uma enquete para caçar cliques: foi traição ou não foi traição?
Imagine você, sua irmã, sua amiga, sua mãe ou outra mulher qualquer que tenha sido traída ver isso se tornar uma ENQUETE. Ao fazer isso, o veículo relativiza a traição, relativiza o sentimento de traição daquela que foi traída. Quer discutir o que é ou não traição, o faça sem usar o caso de uma mulher grávida exposta diante de milhões de pessoas. A ética cada vez mais cede ao caça-clique-vale-tudo. Que triste o momento que vivemos.
Não bastasse isso, um canal gigante de youtube resolveu fazer uma live para discutir os sinais de traições. “…se você tiver as técnicas certas para analisar, você pode identificar sinais comuns que os traidores deixam escapar”. Claro que na chamada da live estão fotos da Iza e seu ex-parceiro. Me faltam palavras.
Confesso uma vontade de voltar para s tempo das cavernas. Talvez isso seja radical demais. Uma casa no campo, na roça, longe de tudo. Acordar, ver o verde, tomar um café quentinho. Criar um filtro na internet e no celular para que eu possa viver o melhor dessa ferramenta incrível. Um filtro de ódio, misoginia, antiética, desumanidade. Será possível?
O lado bom, se é que existe, nisso tudo, é o que o movimento de mulheres potentes e públicas que são traídas e reagem mostram que não somos culpadas das traições. Também não temos que nos envergonhar de sermos traídas. É uma pena que o viva à mensagem enviada por Shakira tenha sido fruto de uma dor para ela e sua família.
Em tempo: tudo isso vale para traições de homens e mulheres. E não, não julgo quem trai. Somos todos humanos e isso nos impõe duas certezas na vida: a morte e o erros. Disso a gente não pode fugir nunca.
Por Flávia Moreira, jornalista
Perfeito.