Pertence aos nobres a capacidade de reconhecer erros e pedir perdão. Equivocar-se não é feio. Embora desagradável, falhar é inevitável.
Fala-se muito do quão altruísta é saber dar o perdão. Mas e saber solicitá-lo, também não seria? Nem todos, afinal, têm a capacidade de renunciar ao próprio ego para reconhecer deslizes e suplicar compaixão àqueles a quem magoaram. Jô Soares teve.
A série documental Um Beijo do Gordo, sobre Jô Soares, estreou no dia 28 no Globoplay. Depois de assistir, eu poderia escolher diferentes perspectivas da vida do ator, humorista, entrevistador e artista para escrever este texto. Optei, porém, por falar de perdão.
Fábio Porchat teve o ato ousado de entregar — durante o intervalo da gravação em que ele estava na plateia do Programa do Jô — um bilhete no qual pedia ao entrevistador para encenar uma esquete de humor no palco da atração.
“Eu estava aqui com uma pastinha com os meus textos e uma fita, ia entregar para o Jô. Aí rasguei o texto, um pedaço em branco, pedi uma caneta, escrevi ali na hora. Quando deu o intervalo, o Jô estava lá e eu vim correndo aqui, entreguei para o Jô, me debrucei, beijei o Jô, e ele falou: ‘O que é isso?’. Aí a produção veio atrás de mim e me levou de volta ao meu lugar.”
Porchat foi chamado quando a gravação retomou para apresentar a sua esquete de humor. A cena foi ao ar. “Nesse dia, eu voltei para casa, só lembro de mim no computador colocando ‘curso de teatro Rio de Janeiro’. Ali, falei: ‘Vou para o Rio ser ator’.”
Já famoso, Porchat foi convidado para ir ao Programa do Jô ser entrevistado. Acabou sendo hostilizado por um apresentador que, claramente, não gostava do convidado. “Foram 10 minutos em que o Jô só me dava porrada. Eu falei: ‘Nunca mais vou voltar nesse programa. Para ser maltratado, não quero. Não vou’.”
Mesmo assim, antes de estrear, em 2016, o seu próprio talk show, Porchat escreveu um texto na revista da qual era colunista falando sobre o apresentador. “Ia estrear meu programa na quarta-feira e escrevi uma matéria no domingo anterior. Era um texto em homenagem ao Jô, dizendo que eu ia estrear meu talk show e que era impossível fazer um talk show no Brasil sem pensar no Jô. Escrevi isso, dizendo que ‘quando vocês estiverem me vendo lá, entrevistando as pessoas, eu vou estar com o Jô em mim’.”
Comovido, Jô Soares decidiu pedir perdão. “Fábio, quero te pedir desculpas, porque eu fui menor, fui pequeno, não podia ter feito isso com você”. Porchat não só o perdoou como o convidou para ser seu entrevistado no talk show da Record. E o convite foi aceito.
Foi nobre Porchat ter concedido o perdão, assim como o gesto de pedir perdão também foi um ato de grandeza do Jô. Ele pode até ter sido “menor” e “pequeno” — afinal, errar é humano, como disse no início deste texto. Mas a atitude posterior do Jô mostrou o que ele era, na essência: gigante!
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
No episódio desta semana do podcast Bá que papo, falamos sobre o Festival de Cinema de Gramado e sobre a série documental Um beijo do gordo que, por meio de depoimentos de amigos, colegas e familiares, revisita a carreira e a vida de Jô Soares. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.