“Teria partido dela o conselho ao deus para proteger-se com a Efígie (Aigis), a fim de vencer a luta contra os gigantes”. Esta frase foi a que mais me chamou atenção quando li, no portal do Supremo Tribunal (STF), a mitologia em torno de Têmis.
Têmis é a divindade grega representada na escultura feita nos anos 1960, pelo artista mineiro Alfredo Ceschiatti, que compõe a Praça dos Três Poderes, em frente ao prédio do STF. A deusa também está ornamentada no Palácio da Justiça, projetado pelo arquiteto Luís Fernando Corona em coautoria com o acadêmico Carlos Maximiliano Fayet, na década de 1950, em Porto Alegre.
Verdade, equidade e humanidade, colocados acima das paixões humanas, são os atributos da deusa, que representa, no sentido moral, o que é — ou deveria ser — a justiça. Ela é a segunda das esposas divinas de Zeus. “Teria partido dela o conselho ao deus para proteger-se com a Efígie (Aigis), a fim de vencer a luta contra os gigantes”. Repito porque gosto do trecho “vencer a luta contra os gigantes”.
Sinto que, por vezes, lutar por justiça significa isso mesmo: lutar contra gigantes. Sejam os gigantes o nosso sistema penal, o dinheiro, o poder ou nossos próprios monstros. Dentro dessa luta, afinal, qual é a linha que divide o que é justiça do que é vingança? Qual a diferença entre essas duas palavras? Para mim, são sinônimas. Baseio minha opinião na frase do filósofo Sófocles, que viveu em 497-406 a. C. “A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”. E uma das melhores obras contemporâneas do audiovisual brasileiro para pensar sobre isso é a minissérie Justiça, de Manuela Dias, que ganhou uma segunda temporada em abril deste ano.
Justiça I nos coloca pra pensar sobre nossas leis, sobre nosso judiciário, sobre nossa sociedade. Sem entrar num debate jurídico. É sobre o ponto de vista da dor humana. É justo a uma mãe ou a um pai o assassino de um filho cumprir sete anos de pena, sair da prisão e iniciar o curso de Direito? É justo obrigar alguém a permanecer vivo? É justo espancar um estuprador até a morte? Eu seria justo comigo mesmo se, em todas essas situações, escolhesse perdoar essas pessoas, mesmo sendo eu a vítima?
Queremos o que de fato é justo quando isso implica abrir mão de privilégios? É justo ter uma casa em Porto Alegre e outra na praia enquanto há mais de meio milhão de pessoas desabrigadas por conta das enchentes no Rio Grande do Sul? Estamos dispostos a abrir mão do que temos ou do que queremos por justiça?
Esta semana, no podcast Ba que papo, conversamos sobre a primeira temporada da minissérie Justiça. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio