Já estamos no final de janeiro, o que significa que já faz mais de dois meses desde que passei um dia inteiro fazendo escalas para chegar no velho continente. E nesses mais de 60 dias não é como se as coisas tivessem sido as mais fáceis do mundo.
Meu relacionamento com Portugal ainda está na fase dos baby steps. Ou seja, tudo é muito mais custoso, complicado e burocrático do que necessariamente deveria ser.
Deixar uma vida inteira para trás não é exatamente moleza. Uma vez que eu tive que largar muitas coisas, entre elas, minha zona de conforto. Não se engane pensando que estava tudo bem no território tupiniquim. Não estava.
Afinal de contas, não se decide mudar de continente quando as coisas estão indo de vento em popa, né?! Ainda assim, há algo de atraente na zona de conforto. O que, de certa forma, deixa tudo mais… descomplicado.
Até porque, se eu precisasse de qualquer coisa, a viagem de Trensurb até a casa da minha mãe durava menos de 40 minutos. (Uma saudade: minha “terra do zoo”, Sapucaia do Sul.)
A vida é linda no feed do Instagram e realmente Portugal não deixa a desejar nesse ponto. Que país mais lindo! E, nesse quesito, claro que sigo fazendo minhas relações com as paisagens conhecidas do Brasil.
A maioria das cidades têm aquele ar catarinense, lembrando desde as praias charmosinhas até os vales verdejantes de Indaial. E Nazaré, que eu acabei de conhecer, tem todo aquele ar de Costão do Santinho — onde só estive uma vez, quando pequena, mas jamais esqueci.
Inclusive, foi essa viagem recente ao Santuário de Fátima e a Nazaré, a praia-das-ondas-gigantes, que inspirou esse relato. (Além, é claro, de toda a bagunça que acontece nos bastidores da minha vida.)
Cabe dizer aqui que, depois que virei uma jovem-adulta/adulta-chata, deixei de gostar da praia e entender o seu apelo — apesar de achá-la, enquanto paisagem, belíssima. Mas deixei de fazer parte de seu público cativo, fazendo curtas aparições, sempre acompanhada de amigos, e sem mais entrar no mar.
Entretanto, ter visitado a praia, o mar, neste último domingo foi completamente revigorante. Não sei até que ponto a culpa é da praia em si, mas ter saído de casa — realmente saído e não apenas ter ido ao shopping ou ao supermercado — e ter tido a chance de ver o céu e conseguido respirar fundo vendo as ondas quebrarem foi quase que uma terapia…
Respirar, de verdade. Que conceito!
Quando se tem deficiência de vitamina D, transtornos mentais e muito tempo para pensar, ficar preso na nossa própria bolha, constantemente sufocado, pode ser um caminho sem volta.
Não à toa, já dizia a querida banda Coronel Pacheco que “desistir é uma delícia”. Então, tem-se de ser muito forte para decidir manter a cabeça erguida e seguir em frente. Ou para simplesmente levantar da cama todo dia. Pequenas vitórias.
Sei que há problemas maiores e mais importantes lá fora, que nada tem a ver com meus problemas-de-pessoa-branca-e-privilegiada — ainda mais em território europeu. Mas quando se tem uma mente que não se cala jamais, às vezes calha parar um pouco, respirar e deixar as palavras escorrerem um cadinho…
Nem que seja para que a Jennifer do futuro esbarre nelas e, por um segundinho, lembre de respirar também.
Muito linda a tua crônica, Jennifer!