Quem me conhece sabe que tenho muitos afetos. Muitos mesmo. Dá um pouco de trabalho, como cultivar quase tudo o que é bom na vida… but I like it… A Sandra Pecis, uma das minhas mais recentes “melhores amigas” espalha por aí que eu tenho um milhão de melhores amigas. Claro que ela exagera, mas sou privilegiada mesmo. A Tatiana Noll, uma das maiores e mais antigas, fez aniversário ontem, e, obviamente é sempre assim, no Dia dos Namorados, data que se originou por ser a véspera do dia de hoje, 13 de junho, Dia de Santo Antônio.
Lembrar da Tati – há quase quatro décadas – sempre nesse dia de corações e declarações transbordantes e melosas me faz refletir sobre a importância verdadeira e a abrangência do amor nas nossas vidas.
Recém-saídas de uma infância serelepe, nosso elo foi imediato. Como eu adorava ouvir aquela risada engraçada que ela tentava segurar e até meio que engolir (ela nunca conseguia) … E eu, que já era meio metida a engraçada, vivia fazendo palhaçadas só para continuar morrendo de rir com a Tati. Quase sempre sem muito motivo. Uma coisa legal da adolescência é que a gente ri da gente mesmo e sem saber bem o porquê. Intensas, agitadas, sonhadoras, estreávamos lado a lado na malícia e na delícia que era viver e virar gente em 1987 na zona sul de Porto Alegre!
Meus pais deixavam eu e o Cris dirigirmos de dia uma Marajó cinza que só podia ser usada nas ruas calmas e pedregosas da Vila Assunção, já que não tínhamos ainda idade para fazer auto-escola e muito menos tirar a carteira de motorista. Numa tarde entediada, decidi que andar um tantinho mais até a casa da Tati no Cristal, não teria problema algum, afinal, mesmo que a Avenida Icaraí fosse bem mais movimentada que o nosso trajeto até a igrejinha ou o Janga, era de verdade bem perto. Pena que no caminho, bati atrás de um carro-forte, daqueles quadrados e duros que parecem uns tanques de guerra. A Marajó se estoporou e desceram dois guardas de metralhadora na mão. Entrei em desepero e comecei a chorar e repetir um pedido de desculpas atrás do outro (o que quase sempre acabava funcionando em incidentes parecidos) até que eles me deixaram dobrar à direita, subir a lomba sacolejando a lataria e despencar em pânico na casa da Tati. Esqueci o que eu tinha ido fazer por lá, que devia ser nada mesmo, além de um lanche e uma penca de gargalhadas ou choramingos com a minha amigona.
Já não importava, nossa missão naquele altura era dedicar o resto de tempo que eu tinha antes de voltar para a casa para amenizar a mijada que eu ia tomar dos meus pais quando eles vissem a Marajó detonada. Uma maquiagem fake fingindo que estava machucada foi o que nos ocorreu na hora. Eu lembro de dizer: “Tati, estraga o nariz, que a mãe adora o meu nariz.” A Tati, dizia para mim: “Calma, não chora! Tu vai borrar tudo assim! E bem que tu podia ter dado uma batidinha de verdade nessa testa pra tia Dedé acreditar melhor, né?” Eu começava a me bater e me beliscar de raiva de ter sido tão maneta e ela morria de rir: “Pára guria, deixa de ser louca! Vamos dar um jeito de pelo menos eles ficarem com pena de ti hoje. Amanhã é outro dia, e já vamos estar juntas no colégio para planejar, e assim nós vamos. Tu não me toma banho, né?” A tia Iara entrou no quarto e tivemos que entregar nosso plano, quando ela nos disse meio rindo: “Gurias, isso não vai dar certo. A mãe da Mari e eu conhecemos vocês.” E assim nós fomos, claro que não deu certo nem essa e nem tantas outras aventuras, encrencas e roubadas em que eu e a Tati nos metemos juntas e separadas ao longo dessas quatro décadas de puro amor, risadaria e lágrimas volumosas e estridentes. Mas o certeiro entre nós sempre foi e será o amor que sentimos uma pela outra. Um amor que pode até sentir ciúme (qual piá de 14 anos que não sente ciúme das amigas?) mas não diminui. Que nem sempre concorda, mas não julga. Que pensa diferente, mas não agride. Que vota diferente, mas não odeia e rompe. Que gosta de outras coisas, mas respeita o gosto da outra. Que não tem coragem e nem vontade de fazer o mesmo, mas incentiva. Que não aguenta mais ouvir a voz da amiga falando sobre a mesma pessoa que nem lembra que ela existe, mas escangalha ainda mais o ouvido e repete mais mil vezes o mesmo conselho inútil. Meu amor pela Tati e pelas minhas amigas é um amor que se importa, não foge na hora ruim. Na hora da doença, então! Ele cola, adere, não desgruda! É um amor cúmplice, que caminha ao lado e não compete. Um amor que não sabe mentir, mesmo que a verdade doa e perfure a alma. Que debocha, não humilha. Se é traido, conhece o caminho do perdão. Com DR, sem vingança. Um amor que não se arrasta no tempo, mas sobrevive cada vez mais potente, pronto para empurrar para frente, sem machucar… Que repete sem gritar. Que incentiva sem duvidar. Que ajuda sem cobrar. A Beta, que integra com Re e a Celi o nosso quinteto aí da foto acima me perguntou na semana passada: “Me diz uma coisa, tu tá gostando e achando bonita essa chuca que tu anda fazendo no cabelo agora?” Eu respondi que sim, porque me disseram que eu tava igual a atriz de uma série que não vi ainda, mas gostei da comparação. Ela me olhou, me dando aquele ombrinho risonho de volta e disse: “tá bom então, tá linda.” Kkkk
Agora como repórter curiosa que sou, pergunto para vocês namoradas, namorados, amantes, ficantes e “cônges” e assemelhados que me lêem agora exaustos da paixão e luxúria de ontem à noite: tem amor mais real e melhor que esse?
Para lá de adultas, adentrando a meia idade, no primeiro dia dos teus 50, minha amiga querida, eu queria te dizer que te ver assim ainda mais radiante, sonhadora, criativa e intensa, me inspira a amar a vida e fazer mais pelas pessoas, que sempre foi a nossa especialidade. Já não trocamos as roupas, acho que nosso estilo mudou um pouco e sempre que tu me olha, pensa: “Se a tia Dedé te visse assim, te matava!” E eu olho pra ti e penso: “A tia Iara está te vendo assim e está morrendo de orgulho sua perua colorida, linda e embonecada.” É ela também quem te guia por todo esse caminho incrível e desafiador que vens trilhando, meu amor. Não esqueço do dia em que nos encontramos na academia e com sorriso resignado e pacífico no rosto, tu me disse que pentear os cabelos da tua mãe bem devagarinho e arrumá-la um pouco doente era uma alegria que tu valorizava muito naquele momento. No Dia de Santo Antônio, é claro que posso também aproveitar para encomendar um parceiro “lindo, fiel, gentil e tarado” como canta a nossa rainha Rita Lee, e como o Beto é para ti, mas o mais importante mesmo é agradecer por você e o meu milhão de amigas existirem todos os dias na minha vida.
Te amo!
Sempre me faz refletir! E sempre me encantar com o tom único da tua escrita. Assim, como se estivesses na nossa frente. Com tanta naturalidade quanto falar. Beijos enormes meu amor. Orgulho de estar entre as tuas.
Eu tenho muita sorte em te ter como melhor amiga na minha vida, sou muito grata a Deus por esse presente . Conta sempre e pra sempre comigo. . Te amo , amo, amo.
Puro amor , dos mais lindos que existem por aí! Beijos para todas que tenho a sorte de roubar sempre algum sorriso e um abraço gostoso qdo nos cruzamos!
Texto afetivo. Muito. Bjs
Amoooo! Que homenagem mais linda! Essa tchurma é demais! E que foto… lembro bem dessa época e de vocês assim juntinhas❤️
Lindas palavras… lindo sentimento
Aí que texto lindo, Mari! Eu só lembro do cabelão e da bunda da Tati Hahahhaha!
Feliz quem tem amigas de verdade nessa vida!
♥️